quinta-feira, agosto 29, 2013

Férias, como quem desce em direcção ao sul.

Em Portugal, férias que são férias dirigem-se para o Sul ou para Leste (leia-se Aldeia). E assim fiz: Sul (leia-se sopé da Arrábida, península de Setúbal).
Não me canso de agradecer as nossas germânicas auto-estradas. Não sabem mas o record mundial de velocidade em estrada "circulável", "pública", vigora desde os anos trinta e foi estabelecido por Rudolf Caracciola, o maior piloto alemão de sempre (sim...), numa manhã fria de 1938 e numa auto-estrada alemã. O km protocolar foi percorrido acima de 430 km/h num Mercedes de Grand Prix modificado. Rosemeyer, a estrela da Auto-Union (antecessora da Audi), horas depois tentou recuperar o record na mesma auto-estrada e despistou-se, morrendo, claro.
Bom, as minhas velocidades não foram nada disso, sendo eu motorista de uma jovem dama de quase quinze. Lanchámos numa E.S. decorada com motivos desportivos onde um cartaz das primeiras olimpíadas modernas. Decidi discursar sobre a pobre Grécia, hoje tão mal amada e a iniciativa deles de reiniciar os Jogos Olímpicos... "Ah, tinham parado?", pergunta-me. Ao contrário do que ela pensa o sentido de humor da adolescente de que falo ainda não está completamente apurado, mas vai lá chegar.
Setúbal é Alcácer do Sal mas maior, Lisboa é Setúbal mas maior. Reduzindo explico. Para a casa onde fomos ficar sobe-se à direita da estrada que leva à pousada do forte de S.Filipe. Uma piscina de brincar espreitava Tróia ao fundo, iluminado de vermelho o Design Hotel, impressão digital um pouco discordante numa baía perfeita, o fim do Sado, a serra, os meandros de Tróia e da Comporta. Apenas circulavam os ferrys.
Descemos a jantar - mal - na Av. Luisa Todi. Contei à minha filha duas anedotas do Bocage. Voltámos a subir, já era noite. É impossível dirigir o caminho de um filho. E se possível, não é bom sinal, para além de em si não ser bom. A minha filha sabe umas coisas de astronomia. No terraço de um bungalow onde por uma noite ficaríamos, estivemos a descobrir estrelas e constelações, a luz de Setúbal não demasiado próxima. E começaram as estrelas cadentes. Uma duas, quatro, teremos visto mais de dez, linhas mensageiras, dirigidas a ninguém. Cada um de nós recebe-as como se nossas. Eu assim fiz. Foi uma festa e por causa desta festa dormiu-se bem. Pensei ainda porém um pouco, antes de adormecer, na razão de, quarenta e nove anos cumpridos, nunca antes ter visto assim uma chuva de estrelas.