sábado, novembro 10, 2012

Chegar tarde.

"Para tudo é preciso sorte", disseram-me hoje de manhã.
Levo toda uma vida a chegar tarde às coisas, Bárbara. Nem é preciso enunciar exaustivamente porque tudo o que tu pensares que se possa considerar importante numa vida foi acontecer-me mas tarde, depois do momento certo ou quando na realidade já a diferença não era a devida, a tida como necessária e fundamental. E o que é fundamental numa vida? Aqui teria lógica perguntar a tua opinião, Bárbara, mas sei que não me vais responder. Cruel é o exame neurológico, disse-me um amigo meu que é médico, o fundamental é que obedeças a ordens, duas pelo menos, as de sempre e simples, porquê fazer desta vida uma coisa complexa quando se está deitada numa maca e não percebemos mesmo nada do que está a acontecer nem sequer a gravidade do que (te) está acontecer sendo tu uma espécie de câmara de pressão positiva - "tão cheia de vida!" - e a vida a esvair-se, um ventinho contra o qual temos de lutar mais ainda se chegamos oh, tão tarde, meu Deus! Eu sei, eu sei, foste tu a chegar tarde ao entendimento das pessoas que te rodearam naquele necrotério, chegaste tarde e se calhar foi a primeira vez na tua já tão longa vida, vinte um vezes trezentos e sessenta e cinco mais cinco (vinte a dividir por quatro, tão simples) vinte e noves de fevereiro, pode ser que tenha sido a primeira vez mas também cumpriste, foi a última.

Afinal...

Comprei uma máquina Nespresso por trinta e nove euros.

Le Noise, 2010



Neil Young é um herói. Fez este disco em 2010 - produção audível de Daniel Lanois. Fantastic. Noise - if it wasn't for the noise how could i stand the silence between us?

Siamese Dreams, 1993



Nestes dias de estreito caminho e difícil passada, Siamese Dreams, album infalível dos Smashing Pumpkins, tem sido uma companhia regular. 1993, what else?

segunda-feira, novembro 05, 2012

A mudança da hora.

Não gosto que me mudem a hora. A minha hora é sempre minha, não a mudem. Não preciso de sair de casa já com a luz do dia por trabalhar. Preciso a noite e a sua violência tão de acordo com a violência que é ter de sair tão cedo de casa. E os meus dias não estão feitos para acabarem às cinco. A fuga ao trabalho, o escape ansioso para uma qualquer liberdade que nos foi negada por horas, não deve ter como receptáculo o escuro, já a noite terminal. Onde o sol para nos receber e descansar as mentes do estupro diário? A noite manda-nos para casa fazer legos imediatamente, dobrar peúgas, "ide e adormecei por entre os Prós e os Contras!". Quero sol para os meus fins de tarde, eu quero sol! Um gelado e uma bebida também não calhava mal! E passear a ver o mar, não ouvi-lo apenas...

A mudança da hora é "por causa dos miúdos", dizem. Os miúdos, transportados ora em autocarros uns ora nos carros dos pais outros, comem e jogam e "tecleiam" completamente alheados desta universal preocupação havida com eles, deste rodar o mundo 1/24 avos para trás cada ano, com correcção primaveril no ano a seguir.

"É para poupar dinheiro!" É possível, é possível, porque hoje, sabemos, TUDO é possível, e esse mesmo TUDO tem só e apenas a ver com POUPAR DINHEIRO. Mas porque tinham logo de poupar dinheiro à custa da minha infelicidade?