sábado, setembro 29, 2012

O frio que já chegou.

Tenho frio nos braços. Tenho frio. Começou esta quinta, ou sexta-feira, não sei bem. A minha filha está constipada, sofre, protesta, mas isto não é uma questão de contágio. É mais uma questão de falta de contágio.
Estive a ver o "Cosmopolis" do Cronenberg, sem legendas. O som baixo do computador e o meu estado de espírito crepuscular permitiu a experiência de estar a ver um filme sem entender as falas, só captando o inciso das imagens. Antes tinha lido o livro. Fiz o download de uma legenda, brasileira, que entretem mais.
Levantei-me. Queria escrever, tenho tanto para escrever e não consigo, as palavras atropelam-se mas falham e falham e falham, como se fossem um mar revolto e que porém nunca consegue abater a defesa de um porto de abrigo que, sendo-o, recusa o mar em excesso. As palavras não prestam. Saio.
Num centro comercial de nome geográfico procuro uma máquina de café: "encontras por cinquenta euros". Subo pela zona verde, e circulo. Entro em alguma coisa razoavelmente grande mas que nunca definiria como uma livraria. Há novos livros de poesia para ler, afinal desaparecer de circulação quinze dias resulta. Em Outubro comprarei, Fernando Guerreiro, Rosa Alice Branco, é preciso manter o equilíbrio do "orçamento familiar", according to the Besnet.
Rádio Popular, Worten, ainda há quem compre coisas, e la nave va! Mas onde a felicidade destas gentes, e porquê calçarem sapatilhas tão feias? Tenho frio nos braços e não há ajuda possível. As palavras, as palavras, é um atropelamento e fuga, é uma vaga gigante e rugosa, na crista saltitam as palavras mais perigosas, no olho central da tempestade está o mais completo silêncio, o das perguntas sem resposta, que as há, ou uma apenas.
E pergunto eu: onde caralho se compra uma máquina para café Nespresso por cinquenta euros?

terça-feira, setembro 25, 2012

O avô António.

Ontem ofereceram-me uma garrafa de "Famous Grouse".
Quando cheguei a casa, garrafa embrulhada dentro de saco-presente, percebi que este tinha sido endereçado originalmente ao "avô António"...

segunda-feira, setembro 17, 2012

Monday's crop.

"Eu tinha o estômago de um animal, não parei de tomar Vófréme, estraguei-o todo!"

"São novas moléculas, é uma injecção que não é preciso picar!"

"Ano que não é de bom melão, não é ano bom!"

Agosto 1631

Naufrágio no Alqueva.

A Cartuxa de Évora.
A mais alta casa de Alter.

O Castêlo (da Maia).
Homem e Bicho.

domingo, setembro 16, 2012

Agosto115

Alentejo no Amial.

Matosinhos west.
Matosinhos east.

Golden ways?
Bah...

Pavilhão multiusos.
Look, a Caruso!

Um Portugal roçando a perfeição?
Millet no Alentejo?

The Age of...

O filme de Scorcese a passar hoje, agora, no AXN White. So unfair...

sexta-feira, setembro 14, 2012

Friday's crop.

"A minha coluna tem uns pequenos pormenores...".

"A minha filha é só dores de cabeça, ressonâncias já fez duas, é como diz a minha mulher, falta-lhe macho!".

"Dói, dói, dói, um feijão! Dói, dói, dói, outro feijão!".

"Se calhar é melhor eu ir para as gramíneas...".

quinta-feira, setembro 13, 2012

1631July

Um mês mais tarde, onde estáis?
Pedro Lemos.
It's getting fuzzy over here...!
Time for believin...
The end of summer as we knew it.
Eles não sabem.
Escrever não adianta. Nem entretem.


The end.


Veloz, sempre veloz.
Nunca chega, o fim.
Até que chega.

#

Mais do que o frio de Agosto
Será o frio de Setembro a condenar o
Sangue à definitiva desordem.

#

Ganhas a luz. Ou o seu contrário.
Mas, não sendo isto um
Jogo sim o arrastar destes
Muitos dias, não farei daqui
Hábito que me cubra,
Gesto que me dispa.

#

E o corpo é uma palavra que se divide em dezenas de sílabas.

#

Até parecem magras as mãos.
Como explicações possíveis ofereço:
Atrofia dos interósseos; o abandono
Do sangue; um sopro de morte
Que por aí começa.

#

Um coração de vidro,
Espelhado para que não se saiba.

#

Nadavas, ou seja, ias-te embora.

#

Era apenas um cavalo de madeira e porém
Este xadrez mudaria se jogado com
Cavalo de Tróia e um fósforo.

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O azul vai desaparecer do mapa.

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Não entendo o que estava a fazer naquele café há vinte e cinco anos.
Menos ainda o que hoje aqui faço: esqueço-me de pedir, perco dinheiro, uma vida.
Tenho de abandonar esta vida de cafés.

#

A “primavera de um amor futuro” tornou-se mais difícil de adivinhar
Dado o aquecimento global e o sexo fácil.

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E nada como um sorriso para corrigir a temperatura ambiente.

#

Um resumo rápido: vejo, deixo de ver. Acelero, paro.
E não é esta uma condução cuidada?


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Tão fácil, um hábito.
E, porém, nunca a
Roupa adequada.

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E, olha, que velhas estas palavras.
Como degraus que, de gastos, não
Sobem, falham.


#

Na coudelaria de Alter, ao contrário de
Alice, é a casa que cresce.


#

“Um dia destes vou-me embora".

Near the end.


Um corpo.
Pode pesar demasiado na equação dos humores.

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É preciso um silêncio melhor do que este.

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Acabará por ser tudo a mesma coisa?

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Passar a ferro e não Trifene.
Lamber as feridas que não aconteceram mas
Podiam ter acontecido.

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Escamas e garras,
Capotes, cimitarras.
Um golpe limpo, é o que se pede.

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Nuvens escassas, um calor imenso.
Abro o Accuweather a teu pedido.

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Porque trazes tão fechado o corpo?

#

A fina poeira faz-te espirrar.
Aliados microscópicos, podeis retirar-vos.
Já basta de distrair esta mulher de cumprir o seu destino.

quarta-feira, setembro 12, 2012

OQFAF - MACE.


Ao falar de Elvas esqueci-me de falar do seu Museu de Arte Contemporânea. O museu está num edifício que já foi hospital e baseia-se na Colecção António Cachola, onde os melhores contemporâneos portugueses e não só se encontram exmplarmente representados. Agradavelmente recebidos, a minha entrada custou dois euros e a da Cata um - preço especial para dos 13 aos 18! Menos e entras grátis! Pena saber hoje que existe uma cafetaria no piso de cima da qual não fomos então informados - it was said it has quite a view!

domingo, setembro 02, 2012

Numa cidade há praças e há largos.

Numa cidade há praças e há largos. As praças são o centro das atenções. Os largos são segredos bem guardados. Eu tenho um terraço, virado a norte e a oeste. É como um pequeno largo, aberto por dois lados. O seu valor intrínseco é nenhum. Estimo-o porque é meu (pago-o ao mês) e porque nele me reconheço. Eu sou este terraço, um espaço sobretudo em branco, vazio e onde pelas margens há vasos e vasos com coisas mortas, secas, ou crescidas por engano. Tudo isto eu rego quase todos os dias. Comparando, estambém eu ainda não parei de almoçar e jantar e tomar o pequeno-almoço no dia a seguir.
Vou descrever. E vou começar da esquerda para a direita, como vejo do sítio onde estou sentado, num beiral de costas para a parede do meu apartamento.

Ao longe, em dois vasos rectangulares que mereceriam outro nome se eu me lembrasse dele, eu e a minha filha semeámos umas florzitas. Cresceram, floriram, morreram. Nunca apresentaram cara que minimamente se parecesse com a fotografia do pacote. No mais da esquerda enterrei duas batatas pequenas, que, entusiasmadas, não paravam de grelar na minha cozinha. Para nada lhes servirá o esforço.

A plantação que se segue já lá não está. Era uma salsa quase arbustiva que um Maio quente encarregou-se de queimar. E, fazendo o canto, noutro vaso comprido já houve junquilhos, brancos, perfeitos, como já houve dias redondos, perfeitos. Floração que não se irá repetir, virá o próximo anos dizer de sua cega justiça, certo é que seráo precisos novos bolbos e novos estímulos para que a perfeição me volte a visitar.

Num vaso branco e oblongo domina um alecrim. Eu chamo-lhe o “alecrim assassino” pois nesse vaso ele acabou por não permitir a sobrevivência de manjericão nem de coentros, nem do cebolinho. Na minha cozinha mantenho uma hortelã-pimenta recém-comprada mas tenho medo de a submeter ao desafio: conseguirá ela sobreviver ao alecrim assassino?

Dois vasos redondos e baixos são de amores-perfeitos. Semeei-os eu. As suas flores, pequenas flores, nunca viram inteiras a luz do dia. Não consegui descobrir que bicho as comia mal elas apareciam - e tentei. Noutras línguas estas flores chamam-se “pensamentos”, logo posso afirmar que deste vaso nunca recebi qualquer ajuda racional. E bem que precisava.

E, a seguir, vindo mais para cá, a mais risível das plantações, a das couves-coração. A self-deprecating joke, i must confess. E nasceram e cresceram mas sempre, sempre com defeitos, com defeitos e bastantes. Também algum que outro parasita as comia. Mas, mais do que esse alimentar alheio quando quem mais tem fome sou eu, a questão era nunca as pequenas e tortas couves começarem a fechar para desenhar o desenho esperado, nem para imitação de um dar de mãos quanto mais de um punho fechado símile o musculado órgão de cujo nome o nome da couve vem.

Em dois vasos há três gladíolos, um já floriu, os outros duas promessas que não serão eternas porque sabemos hoje mais e melhor. Estão parados no espaço e no tempo, será preciso arrancá-los, dar-lhes um destino definitivo. Um vaso grande no meio destes já teve um jasmim que não resistiu ao inverno. Hoje duas flores amarelas silvestres esperam resignadas a remodelação urbanística deste terreno.

Da casa – e quintal – de meus pais vieram: uma hera que, pequena, tem sido sujeita à pontaria excrementícia de pombas e gaivotas, aguentando estoicamente esta prova; um loureiro; um pé de glicínias; um azevinho. Quatro plantas que serão, quando forem grandes e eu muito velho, o orgulho deste terraço. Muito velho talvez para me lembrar de quando as trouxe, das ilusões transportadas com elas, do carinho que se perdeu porque sem retorno.

No canto direito já aqui perto de mim jaz seco um pinheiro de Natal e que assim leva ano e meio. Nele uma planta silvestre de folhas avermelhadas e pequeninas flores azuladas sobrevive da pouca água que eu ainda lhe dedico. Mais que sobrevive; medra e cresce, em pouco estará mais alta que o próprio pinheiro. Como eu sei que os filhos em nada se parecem aos pais insisto que esta planta nasceu do pinheiro de Natal, e mais não digo.

E, chegados aqui ao meu lado direito, há uma mesa e nela três vasos. O mais distante é um bonsai com meses apenas neste largo. Encontro-lhe já a utilidade de dar sustento a umas quantas teias de aranha que criam vários pisos de armadilha, pois que desenhadas em horizontal. Redes onde em rios de vento peixes-insectos vêm prender (e perder) o exosqueleto. E não vivemos todos de lançar a teia ao próximo, sempre outro, sempre insecto, retirando-lhe progressivamente a armadura, o exosqueleto, até finalmente nos servir de alimento?

A meio reside um vaso que me foi oferecido de amores-perfeitos cuja capacidade de produzir perfeitas flores mostrou-se uma e outra e outra e outra vez. Mas agora acabou, esgotado, e atem-se ao seu silencioso verde, braços abertos pelo esforço, as cabeças perdidas das flores que já não são.

Mais junto a mim, ao alcance da minha cansada mão direita, a não dominante e portanto a mais secreta, reside um bonsai morto há anos. Mantenho-o como se uma escultura fosse, pois agrada-me o desenho cinzento do seu cadáver. Na terra que o sustinha (e sustém) um pequeno e heterogéneo manto de verde, musgo, ervinhas, um pequeníssimo arbusto, enquadra a mais recente das minhas alegrias, uma flor. O seu nascer foi sem razão nem projecto e, se calhar, assim serão as melhores coisas.

Dicas musicais.

"The wind in my heart / The dust in my head"

"Dar e receber"

"Who needs to think / when your feet just go"

OQFAF - Elvas.

Uma canção pode fazer muito mal a uma cidade. Felizmente não ouvi a canção do Paco Bandeira na nossa ida a Elvas.
 
Seria Elvas a "outra" cidade alentejana, sendo Beja um anticlimax e Portalegre demasiado pequena?
 
Não, Elvas não é a "outra" cidade alentejana. Só há Évora. Mas Elvas merece que se conte a sua história. A aproximação faz-se por norte. E percebe-se Elvas. Até há trinta anos - suponho que hoje já não - nas aulas de estratégia militar em Portugal a grande ameaça era ainda e sempre a invasão - espanhola - terrestre pelo Alentejo em direcção a Lisboa. Primeira paragem? Elvas. Esta pequena cidade é a fortaleza abaluartada mais extensa da Europa e por isso hoje património Unesco.
Elvas desce pela encosta a sul do muro que nos acabou de receber. Porque rodeámos vamos fazer o caminho inverso e subir até estacionar no subterrâneo que inventaram no largo que homenageia a Sé, obra de Francisco Arruda e a 2ª igreja mais importante do Alentejo, et pour cause. Largo muito interessante se esquecermos o edifício onde fica o BES, élàce. Depois, é subir até ao Castelo e ver as vistas, nomeadamente o Forte da Graça a norte, e tentar esquecer o pirolito da PT que está por ali a telecomunicar-nos. E voltar a descer: a malha urbana inclinada de Elvas é interessante e rica em igrejas, casas, achados, etc.
 
Porém, as batalhas que sucessivamente Elvas ganhou perante o Espanhol foram agora perdidas na paz. Elvas a altiva vive hoje de vender atoalhados e bacalhau dourado a quem a visita do outro lado da fronteira. Sem grandes superfícies, felizmente, e com uma multiplicidade de indicações. Mas não deixa de ser assim. Tanto que almoçamos no único restaurante do mundo que... também vende atoalhados! Não almoçámos bacalhau...

sábado, setembro 01, 2012

OQFAF - Alqueva.

O Alqueva. Não é uma miragem. O maior lago artificial europeu combina um excelente clima com a superlativa paisagem circundante. E Monsaraz, e Mourão, e Juromenha...
Fomos almoçar ao Ameeira Marina, fazia calor. Esta é a marina mais marina do Alqueva. E este o restaurante. As plumas eram discretas, muito salgadas, mas o bife de atum com funcho estava bom e o vinho a copo foi correcta e respeitosamente apresentado, ao contrário do que aconteceu dias depois no Antão em Évora. Há quem compreenda que conduzir com uma filha ao lado implica ser responsável mas não exclui apreciar-se um bom vinho... O mousse de vinagre mereceu documentação fotográfica pelo aspecto mas e soube bem.
A companhia feminina pediu dispensa do passeio de barco e seguimos para Espanha, onde se encontra a única praia fluvial decente em todo o Alqueva, dizem. Demorou um pedaço a lá chegar, metendo um bocado de terra batida. A praia de Cheles é como o restante Alqueva espanhol, de trazer-por-casa, nada do espectáculo português. Calha que existe, está lá, funciona, é agradável. Sem vigilância, o wc na cafetaria. Pena a mania que os espanhóis do sul têm de cantar quando bebem.

Mágico foi o por-do-sol na ponte entre Mourão e Monsaraz, voltávamos, e uns pedregulhos mágicos e polidos que por ali saiam das águas, à direita, à esquerda. Fiquei com pena de não subir a Mourão, tão escuro visto da estrada.

OQFAF - Évora.

O que tem Évora que a individualiza das restantes cidades deste santo país é a discreta mas apreciável grandeza e harmonia da sua paisagem urbana, visível ao longe rodeando as torres da Sé. Évora desenha-se circular e centrípeta à volta de uma colina onde os principais edifícios estão, o Templo de Diana, a Sé, os Loios, o Museu. Não há aqui um rio nem as povoações alentejanas de planície os procuram.
Suponho que qualquer terra portuguesa procura ter muitas rotundas porque algum vereador visitou Évora. Mas as de Évora ficam-lhe bem, até porque rodeiam uma muralha seiscentista. E em Évora é fácil estacionar, é só procurar a feira, se nas ruas próximas não se arranjar uma sombra. Ali atrás está a ermida de São Brás, entra-se na cidade intra-muros, à esquerda o parque onde fica a Galeria das Damas, restos de um paço real quando Évora era a segunda cidade do reino. Uma ligeira inclinação, as traseiras de São Francisco, um curvar para a esquerda, espreitando à direita uma das igrejas mais bonitas do país - a do Convento da Graça. Pelo que sei os militares arruinaram-na, pelo que resta quase só a frontaria. Como recompensa o convento é a actual messe dos oficiais, visitas não há .
E chegamos ao Giraldo. Ainda o conheci - há quinze anos -  com o passeio central livre de esplanadas e sobejado de alentejanos - homens - bem dispostos, conversando, alguns com cajado, todos com chapéu, tomando posse de Évora. Já a perderam.
Felizmente os turistas só frequentam meia dúzia de ruas  mais - as dos restaurantes, as do artesanato, e a já referida zona onde estão os principais monumentos. Virando aqui ou ali o branco e ocre deixa de se fazer acompanhar por espanhóis ou italianos ou ingleses e ganha a claridade antiga. Aqui ou ali uma janela, um muro, uma chaminé, um remate, um pormenor, o conjunto. E felizmente isto não é Óbidos, não há chocolate ou ginjinha à nossa espera. E há as Portas de Moura mais seu chafariz quinhentista. Jantei na esplanada do Giraldo umas migas médias e almocei no Antão algo que eu não lembrar-me - idem o vinho a copo servido - quererá dizer alguma coisa. Não tinha orçamento para o Fialho...
Évora não tem um Centro Comercial nem tem uma Pizza Hut. O McDonalds fica convenientemente na circular exterior e no nosso caminho para a herdade - how convenient...
Sim, Évora vale bem mais do que uma missa. Muito mais.