quarta-feira, junho 27, 2012

A M Pires Cabral

TU QUE NOS DESTE


Tu que nos desde a primavera
e o sarampo,
as manobras fáceis da procriação
e a denodada repulsa pela morte,

leva um pouco mais longe a generosidade
e dá-nos agora a indiferença:
longa, fria, auspiciosa.

Como a que deste às pedras.
E - segundo parece -
como a que reservaste para ti.

Dá-nos esse gelo, essa tão
dura carapaça. Para que passem
carroças sobre nós - e nós a assobiar.



in As Têmporas de Cinza, ed. Livros Cotovia, 2008

terça-feira, junho 26, 2012

Ontem, no 'Público'.

"O homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão".   

Jules Renard

A nódoa no melhor pano.

O Vela Areinho é o melhor restaurante que Ovar tem para oferecer. Não tendo a melhor cozinha a localização - uma ilha no meio da ria - compensa tudo. Quando do cinquentenário do casamento de meus pais, levei-os a jantar ao Vela Areinho.
Este restaurante tem uma esplanada virada para a ria à qual se acede após atravessar o bar. Atravessado o bar, e porque estava sol, procurou-se a melhor localização para a concessão de alguma sombra. Os chapéus de sol estavam disposto de forma a que a sombra acontecesse sobretudo ao espaço entre mesas. Sentados e em pedido, aconteceu que se pediu um copo de água. "Nós não servimos copos de água". Há uma primeira vez para tudo, no sexo como no disparate. Não estando eu numa cena de hardcore com a empregada aquilo era um  disparate. Ocorreu-me porém que o direito ao disparate isolado é como aquele cão muito simpático e brincalhão de que gostamos muito e que nos morde ao fim de cinco anos de vida. Acontece... Trazidas as bebidas mas sem água... "são uns quantos euros e mais uns quantos cêntimos"! Ora não sendo aquela esplanada na rua a fugirmos dali sem pagar só a nado, logo disparate em dose dupla, que isto de pagar à cabeça lembra sempre estação de serviço às duas da manhã e a eventualidade de sermos más pessoas, o que nem é/era o caso.
Caso para dizer...

segunda-feira, junho 25, 2012

A primeira quinzena de Junho.

Junho é...

Snow.

Walk on by!

Wood and water.

Vai cair a tua mochila, rapaz!

Não prenderás as nuvens!

Apenas luz.

Esculpir a natureza é...

quinta-feira, junho 21, 2012

As cascas de banana.

Estou emocionado: o meu "bairro" é o 5º mais in da cidade do Porto num survey da revista do Expresso. Um habitante do meu bairro in gosta de atirar cascas de banana para o meu terraço. Moro num terceiro, para cima há até ao décimo, metade deles habitados. A semana passada as cascas de banana eram duas. Como fazer? Condomínio? Door-to-door? Decidi colocar cada casca de banana em seu elevador, duas para dois, tão prático. Para um prédio meio desabitado, em meia hora tinham desaparecido. A carta a Garcia.
Ontem havia mais uma casca de banana, perto do murete. Vou assumir que tentaram atirar para fora, para o espaço verde luxuriante que nos defende da VCI,  e a força não chegou.

segunda-feira, junho 18, 2012

mais Adília Lopes

No cacilheiro
o namorado beija
a namorada
mas por cima
do ombro dela
olha-me
com muita curiosidade



in Sete Rios Entre Campos, ed. &etc., 1999.

Adília Lopes

Ah quem me dera um vestido
que me queimasse



ed. Black Sun, 1992.

Este fim-de-semana umas horas foram assim.

Isto de um blogue, já o disse, não é mais do que um diário que se publica e publicita. No sábado levantei-me às catorze e trinta depois de ter feito 24 horas. Telefonaram-me, acordei, levantei-me. Não foi bom. Domingo de manhã vi as 24 de Le Mans na Eurosport. Não é a mesma coisa. Combinado o Domingo depois de alguma discinesia telefónica, com banho, almoço e 1g de paracetamol despachados, saí para a rua, como dizia o Rui Veloso, como o meu saia-casaco escuro. Comecei por Serralves para marcar uma despedida, e depois segui para o SuperCor. Porquê o SuperCor? Porque sou um snob, e tinha uma senha de seis euros para descontar. Compro coisas que noutros super’s não há, etc. Usei um carro. Há quanto tempo não usava um carro! Sou contra aquela coisa de levar uma lista para diminuir o potencial de compras desnecessárias. Ora definam-me lá “compras desnecessárias”! Pão indiano que se aquece no micro-ondas?  Mais duas garrafas de Pousio 2011 “para-ficar”? Give me a break… Atravessei o Porto e estacionei acima de Santa Catarina. Precisava de ir à Batalha e depois aos Aliados. Fiz Santa Catarina. Sábado, mais turistas do que originários, é isto o Porto  em 2012. Em frente à Zara uma ucraniana cantava para obter umas moedas, um rapaz sentado ao lado, o filho, talvez, talvez. Quando das obras da Capital da cultura alteraram e muito a praça da Batalha. Não sei para quê. Como na comida que sai mal feita, nota-se que faltou carinho nestas obras. Felizmente há uns peruanos ali a vender umas coisas, primos muito mas muito afastados do Vargas Llosa, felizmente há o colectivo Casa – porquê uns coletes fluorescentes? qual o risco de atropelamento e fuga? dariam as sopas uns aos outros? – a distribuir o jantar a dezenas de sem-abrigos em frente à Igreja de Sto Ildefonso. Crisis? What crisis? Fui ao teatro de S.João comprar uns bilhetes, em frente o cinema Batalha ao abandono, com uns grafittis nojentos. O Águia de Ouro agora é um B&B, a pornografia é a mesma mas serve-se em casa. À porta do Grande Hotel da Batalha, que perdeu o nome, um homem da minha idade come uma sopa. A Batalha sem cinema e sem hotel… Desço a 31 de Janeiro, deserta. A famosa revitalização do Porto... Os palitos colocados para evitar estacionamento criaram uma trincheira. A revitalização é o Palácio das Cardosas que virou um híper-Hotel. Vamos lá à Feira do Livro. A Feira do Livro é em baixo a Leya, um pouco acima a Porto Editora,  e… as outras. Custa ver a Assírio&Alvim por ali perdida,  Cesariny mais um ícone para venda, como se um João Tordo, um José Luis Peixoto… Compro um livro do Alain de Botton sobre o amor, um suíço de quem se fala. Tem cara de inteligente chato, sou eu com variações. Na caixa alguém que eu conheço tão bem, de há uns… vinte anos, meu deus, vinte anos! Rodeio a baía de caixas, nada, ela continua ali. Sempre fui traído pela minha rapidez a fazer o que não interessa, a espera um aguilhão desnecessário, terrível. Porque não conversarmos? Acompanhada? Porquê impor-me? Haven’t you done enough long time ago? Did I suffer? Pago e sigo para a Relógio de Água. Compro Adília Lopes. Oh, como eu gosto da Adília Lopes. Compro também um clássico do MEC – sim, um favor que faço à Assírio – e rumo ao carro, atrasado. Em frente ao Rivoli a Câmara assegurava sofrimento a um trio de polacos. Depois subi Sá da Bandeira, a parede oeste uma ruína. Há trinta anos era aqui o NorteShopping. Em Santa Catarina já não está a ucraniana mas um homem a tocar trompete – companheiro, marido, chulo? Arménio? Por mim passa um casal de ciclistas em ascensão... para onde? Subo por uma rua interna que parte de Fernandes Tomás e que no fim “cai” sobre o lugar onde o meu carro ficou estacionado. Estas são as vísceras do Porto, aqui ainda não chegou o turismo. Pego no carro, deixo de olhar (também) para as nuvens que não deixam de me fascinar porque cá por baixo nada acontece, faço o íngreme ponto de embraiagem que me devolve às obrigações que tenho adquiridas, como o país a que pertenço, o crédito esgotado, ele e eu.



















sexta-feira, junho 08, 2012

1631Maio2

Renova Plus.
Is this it?
Olha, vale a pena!
Ninguém mesmo...
Message in the Bottle!

1631Maio1

Layers.
Foge.
Hotel.
É o que somos.
Billy the Kid.

quinta-feira, junho 07, 2012

Jorge Sousa Braga

O SEMÁFORO VERMELHO



No regresso a casa a seguir a uma
curva apertada há um semáforo
que fica sempre vermelho quando
te aproximas Seja de dia ou de
noite quer chova ou não... Já
experimentaste acelerar ou
reduzir a velocidade Em vão...
Fica sempre vermelho quando
te aproximas esse semáforo





in O Novíssimo Testamento e outros poemas, Ass&Alvim, 2012.