domingo, julho 31, 2011

Vacatio interruptio II

Sou um homem que lê.
Tudo o mais, acessório?

Vacatio interruptio I

"A LITERATURA

3.

Será sensato
descobrir o momento
em que se deve
deixar de escrever
e apenas
passar a limpo?"





José Alberto Oliveira, in Telhados de Vidro nº15, Junho 2011, ed.Averno












p.s.: se errado, alguém que me corrija o latinório...

sábado, julho 16, 2011

Hum...

Férias.

ECMO.

E agora? Estranho conseguir perguntar-me isto, não devia. Como consigo? Há apenas uns meses decidiram que o meu cérebro já não estava mesmo nada bem. Lembro-me de fazer o desenho de um relógio e não sei porquê coloquei os traços das horas por fora e não por dentro, se calhar até terei achado que assim era mais simples de entender, eu a facilitar a vida a quem me testava, houve também umas contas e umas palavras para lembrar depois. Não devo ter feito bem as coisas porque receitaram-me medicamentos novos. O princípio do fim, pensei. O princípio do fim. E era.
Tenho feito tudo o que me pedem. Não bebas, não bebo. Vende os animais, eu vendo. Vende parte do olival. Tenho parte da minha vida assim vendida. Onde fico eu?
Às vezes vou à cidade e perco-me um pouco. Também, com esta mania que têm hoje de obras sempre obras, sentidos únicos, Castelo Branco já não se parece muito com a terra que eu conhecia tão bem, não me parece difícil uma pessoa confundir-se um pouco e eu peço ajuda porque não quero envergonhar ninguém. Claro que cada ajuda custa-me pontos, é este um jogo cruel e decide-se logo ali, se precisas de ajuda como podes decidir ainda o que seja, vais respirar assistidamente para uma máquina que por muito que venham consertar faz sempre demasiado barulho, vais fazer isto e aquilo e aqueloutro, um homem que não decide vive do quê se a rota não é sua, a derrota completa, isto já não são pontos, já nem sei o que é.
Mas vejamos, dizem que o meu cérebro não está bem mas está, infelizmente está. Porque é imensa esta dor que eu hoje sinto. Foi morrer longe a mulher da minha vida, agarrada a uma máquina muito nova e fantástica. Quatro letras também, essa máquina, como a outra do dormir. Mas morreu. E agora sim, já não me oriento. Não porque esta cabeça já não esteja bem. Sim porque a parte desta minha cabeça a que eu chamo o coração foi rasgada ao meio e não há solução. Com se eu fosse uma notícia e agora já não interessasse mais e vá de rasgar. Eu vejo bem e claro o que aconteceu. Deus me perdoe mas não há mesmo solução nem medicamentos que a encontrem para mim. Ia dizer "devolver" mas isso não tem lógica, eu sei.

A Häagen-Dazs e o Conservatório.

Há muitos, muitos anos fui assistir a algum pequeno concerto qualquer ao antigo Conservatório do Porto - foi contigo, Cláudia? - e, já então, ele pareceu-me um palácio de brincar, acastelado, precedido por um interessante jardim, ali na rua que nos leva à Maternidade Julio Dinis.
Voltei ao antigo Conservatório há dias, puxado por uma promoção Häagen-Dazs. Eu gosto dos gelados Haagen-Dasz. Muito. Recentemente fechou na Foz uma loja Häagen-Dazs. Eu e a minha filha tínhamos construido o ritual de, antes das suas aulas de violoncelo, por ali passar e consumir. Havia os cartões e as promoções mas sobretudo os sabores e a simaptia de quem nos atendia. Os dias a crecser, o pôr-do-sol ali ao lado, o mar, o passeio, um pequeno tempo conquistado. Os sabores. A loja fechou no fim de Maio. Häagen-Dazs, disseram-nos, só nos centros comerciais. Donde a minha curiosidade com esta promoção ali perto da Miguel B, vocês sabem, o sítio da moda. Lá fui.
À direita o palacete tem uma placa a definir a propriedade como sendo da C.M.Porto. Na varanda o símbolo Häagen-Dazs, assim como se tivesse havido conquista a la Playmobil. Na placa ajardinada central dois imensos boiões Häagen-Dazs. Música chill-out - o disco menos bom dos "Zero Seven". E então? Dos produtos Haagen-Dasz pouco ou nada: dois rapazes simpáticos, uma rapariga com o aparelho dentário mais complexo que eu já vi. E dois sabores novos à borla: "creme brulée" e "chocolat fondue", bastando uma espécie de "gosto" no Facebook via iPad. Assim fizemos, Albino, o "creme brulée" sendo uma caca. Mesmo grátis. Eu tinha pedido um sorvete de manga, a rapariga fez que não ouviu, ninguém iria ali gastar um cêntimo, porquê eu?
Resumindo e  concluindo, isto lembrou-me outras coisas a acontecer em outros ramos de serviços, a Häagen-Dazs vai ganhar ZERO com esta promoção, perde sim ao fechar algumas lojas iconográficas em localizações chave. Alguns executivos acharam que sim, se calhar serão promovidos, nada de especial irá acontecer, a crosta da terra anda calma depois do Japão, os gelados Häagen-Dazs continuam bons.

PS.: entretanto fechou a Bertrand de Julio Dinis e abriu a Bertrand do CC Campus perto do meu local de trabalho. A mesma lógica deslocalizadora, o mesmo alterar de umas coordenadas hoje ultrapassadas por uma triste realidade. Enfim, o tempo lá fora está nublado, choverá segunda-feira...

quinta-feira, julho 14, 2011

Cabeçotes e pendurais.

Cabeçotes, pendurais, eis que estamos cordatos, dialogados, sucedâneos e expontâneos. Estáis? Estamos! Á porta os editais, só assim vamos, só assim vais, de rapazotes já me chega, as suas partes em rima, cabecinhas, cabeçadas, escadotes, escadas. Descer e subir, descer e subir. Dialogamos. Já caí, já caímos. Não juntos e injustos nos levantamos. Estamos? Não exibido, não mostrado, não subido, sem mestrado. Mas existe uma colecção de prendas, uma resma, uma selecção nacional. E em instantâneos em milímetros medidos os melhores conterrâneos são vedados e exibidos. Se os revelais será que os pendurais? Será a câmara... escura? Afinal sendo privilégio da escuridão o revelar porque escondeis da colheita o melhor lote, da rua a melhor construção, festa para os olhos, erguida em sentidos, fogo sobre fogo, e mais?

Verdade seja dita que tudo isto nasce da aflita condição que por cabeçotes e pendurais há quem tenha pago, em tempos que já cá não estão... trezentos euros.

domingo, julho 10, 2011

Ano Cinquenta.

Os meus pais fizeram cinquenta anos de casados. Foi ontem, na matriz de Ovar. Após alguma negociação, os dois concordaram em ir. O meu pai nunca foi de missas nem de crenças. A minha mãe sofre hoje em dia de uma religiosidade algo tardia mas que, suponho, é um bom refúgio para os seus setenta e dois anos onde não tem quase mais ninguém com quem falar senão deus e os santos e os anjos.
Já não punha os pés numa igreja desde o último baptizado ou casamento a que assisti, quando foi, nem sei. Não foi um bom dia para voltar. A missa das sete da tarde de sábado parecia povoada por uma pequena multidão de resistentes ao holocausto, de tão animados que estavam. Havia um coro - também de resistentes ao holocausto – que cantava sob as ordens de um homem com umas calças de ganga horríveis tipo genéricos, krka ou gp ou bluefish, e que ameaçava cair para a frente sempre que se dirigia ao público para os incentivar a cantar. Obrigado à primeira fila pela ocasião festiva, embaraçava-me não participar nos dizeres que o ritual da missa obriga, o acto de contrição, o credo, o pai-nosso, os cânticos. Fui percebendo, à medida que a cerimónia decorria, que não queria ali voltar nem nos próximos vinte anos. Até simpatizo com o pároco, nativo de Oliveira de Azeméis que, para variar, tem feito mais pela terra que os nativos. Não parecia entusiasmado com a cerimónia a que presidia; a dado momento a minha filha perguntou: “ele está a chorar?”, enquanto eu de vez em quando me perguntava se ele estava a dormir. Soube dizer o nome dos meus pais, e veio junto deles impor-lhes as novas alianças e cumprimentar-nos. Enfim, tinha sido pago para fazê-lo. Comungaram a minha mãe e o meu pai. O meu pai tinha ido confessar-se – talvez pela primeira vez em cinquenta anos – três dias antes, sem nada dizer a ninguém. Confessar o quê? O meu pai não peca, que eu saiba, há uma década. Só eu sei que ele foi confessar-se pura e simplesmente porque não tinha lógica a minha mãe comungar e ele ali ao lado não. Pesou os prós e os contras, e foi. Assim se faz história.
No fim vieram cumprimentar-nos vários daqueles sobreviventes do holocausto que nos rodeavam. Tinha visto uma antiga vizinha minha, ex-professora primária de quem eu gostava muito nos meus quatro, cinco anos, agora decrescida, assustada, tomada também por esta coisa da devoção. Muita religiosidade nasce do mais puro medo. Mas ela não nos veio cumprimentar. Veio sim a D. Aldina e a filha solteira, rapariga com a qual na minha primeira infância eu mal falei mas ontem, com o entusiasmo até tratei por tu. Estes sobreviventes até sabiam rir! Contei-lhes a história, verdadeira, do nascer do meu sportinguismo, naquela rua Alexandre Sá Pinto -  o filho duma e irmão da outra, de nome, Zé Manel, era sportinguista, e meu ídolo precoce, sendo eu filho único. Havia outro rapaz, o filho da tal professora, o Carlos, menos simpático, e que até calha que hoje é médico, então era apenas benfiquista. Escolhi o clube daquele que gostava mais. Olá Zé Manel, felizmente lembrei-me que o teu pai já faleceu há muitos anos, por ele não perguntei.
Enfim, uma cerimónia com alguns fogachos de interesse, cinquenta anos é muito tempo, lá houve parabéns, etc. Sempre pensei que os meus pais deviam ter-se separado aí há uns quarenta anos, ou trinta, hoje penso que talvez não, o muito que se fizeram infelizes um ao outro talvez hoje se compense pelo simples partilhar de uma casa, coisa que só adquire valor muito tarde mas adquire. E eu gosto muito dos meus pais.

Os meus pais trocaram, e até me pareceram contentes por isso, alianças. Só não trocaram um beijo.

A importância das palavras em Marisa Monte ou... "Vamos nos permitir"

O meu gostar de Marisa Monte tem a lógica normal e corrente que nos leva a gostar de determinadas canções: elas funcionam como hinos pessoais. Todos temos estes hinos. Um sinal dos anos é perdermos a "liberdade" de os/nos cantarmos. É triste mas é assim. A condução solitária no meio do trânsito é das melhores ocasiões para voltar atrás e gritar "aquela" canção. Recomendo vivamente. Anexo agora aqui alguns pedaços de escrita nas canções de Marisa Monte. Muito - mas não tudo - é de Arnaldo Antunes. Também da prória Marisa, de Carlinhos Brown, de Nando Reis. Of course, nothing personal, just great songwriting, ok?


"Todo o dia de manhã / Enquanto eu tomo o meu café amargo / E ainda boto fé / De um dia te ter a meu lado // Na verdade eu preciso aprender"


"Até parece / Que não lembra que não sabe / O que passou / Nao faz assim / Não faz de conta que não pensa / Em outra chance pra nós dois / Olha pra mim / Não me torture, não simule / Não me cure de você / Deixa o amanhã dizer"


"E no meio de tanta gente eu encontrei você / Entre tanta gente chata sem nenhuma graça / Você veio"


"Eu vejo a vida melhor no futuro / Eu vejo isto por cima do muro / De hipocrisia que insiste em nos rodear / Eu vejo a vida mais farta e clara / Repleta de toda satisfação / Que se tem direito / Do firmamento ao chão"


"Eu vejo um novo começo de era / De gente fina elegante e sincera / Com habilidade pra dizer mais sim que não"


"Vamos nos permitir" 


"Anoiteça eu e amanheça eu"


"Para você o que você gosta diariamente"


"Pode ser o desabotoado céu"


"Eu não sou da sua rua / Eu não falo a sua língua / A minha vida é diferente da sua"


"Procuro explicar o meu sentimento / E só consigo encontrar / Palavras que não existem no dicionário / Você podia entender meu vocabulário / Decifrar meus sinais, seria bom"


"Eu quero aquilo que não tenho / Tenho tanto a fazer / Eu faço tudo pela metade / Eu não percebo / Falo muito palavrão / Eu falo muito mal /  Falo muito mesmo sem saber o que estou falando / Eu falo muito bem / Eu minto"


"Um dia eu vou estar à toa / E você vai estar na mira / Eu sei que você sabe / Que eu sei que você sabe / Que é difícil de dizer / O meu coração / É um músculo involuntário / E ele pulsa por você"


"E o que passou, calou / E o que virá, dirá"


"Os anjos que me carregam / Os automóveis que me cercam / Os santos que me projetam / Nas asas do bem deste mundo / Carrego um quintal lá no fundo / A água do mar me bebe / A sede de ti prossegue"


"Em alguns instantes / Sou pequenina e também gigante / Vem cara, se declara / O mundo é portátil / Para quem não tem nada a esconder"


"Lá o tempo espera / Lá é primavera / Porta e janelas ficam sempre abertas / Pra sorte entrar /Em todas as mesas, pão / Flores enfeitando / Os caminhos, os vestidos, os destinos / E essa canção"

quinta-feira, julho 07, 2011

Seu Jorge.

Estás doente, disseram-me. Aliás, perguntaram-me por ti. Se eu sabia. O facto é que não sei. E parece-me não ser esta a coisa mais importante a saber de ti. Estás doente. Ó, pá, porra, melhora! Põe-te bom!

Tempos houve em que a nossa equipa representava o que de melhor se podia oferecer numa noite de urgência no meu hospital. E éramos bons.
Sim, porque, porquê iludi-lo, eu trabalho num hospital. E às vezes era assim, tu dum lado, outro grande amigo meu - que também tem estado doente - do outro, internos a aprender a profissão, alguns hoje ainda tão amigos.
E então é como eu dizia, tu dum lado, o Luis do outro, mais alguma gente, isto sim, era uma Equipa. A noite provoca, se calhar, uma alteração das coordenadas do jogo entre os humanos, sendo que a luz do dia tudo acalma, aplana, neutraliza. A noite é a anti-matéria possível.
Éramos amigos naquela noite, e já antes, e depois. Hoje, por ex.
Enfim, esta merda nada conta e não sobrevive ao incontornável facto de teres dos melhores sentidos de humor que me foram dados apreciar. Sempre gostei de ti, és dos amigos que tenho com mais valor acrescentado e não preciso de explicar isto que escrevo. Tenho muita sorte por todas as pessoas que fui conhecendo. Tu, por ex.

Tudo tem o seu tempo e o atrás descrito passou. Não interessa, não passou nada: vá lá, põe-te bem!

domingo, julho 03, 2011

"Bom fds :)"

"Prevê-se descida abrupta das temperaturas em todo o continente e ilhas, céus pouco a muito nublados e vento moderado na costa a norte do cabo carvoeiro, ondulação de um a dois metros na costa ocidental,  de meio metro na costa algarvia. A partir de segunda-feira não sei, não faço a mais pequena ideia."

Já ficou entendido

que eu gosto de Marisa Monte...

Eu Sei (Na Mira)



(feito de músculos involuntários)

Pode sair...

é de graça...

Junho 2011

Já não chega?

I see lights.

Pequena a flor, é minha.

Cello's brigade.

Stars, submarine, caution, roadwork, sensational, potato, fireworks, june.

Não perder o pé, florir e isso...

Pedra dura, violenta água.

O deserto ordenado.

Uma parede e uns anos.


June, not July.

Não É Fácil.



(não é fácil)

Sem Cais



(sem cais)

Sweet Revenge theme



(crying time)

sábado, julho 02, 2011

Patricia Highsmith e Rentes de Carvalho

No Leituras.

sexta-feira, julho 01, 2011

Sharapova! The place to see is Wimbledon...