domingo, outubro 31, 2010

Burkina Faso.

Hoje por hoje abundam os jogadores do Burkina Faso em Portugal. Sabiam, não sabiam? Algo terá a ver com o facto do seleccionador deles ser português.

Um exeemplo: no União de Leiria é frequentemente titular o jogador...   Panandetiguiri!

Rádio Macau

Auden

"(...)
When it comes, will it come without warning

Just as I'm picking my nose?
Will it knock on my door in the morning,
Or tread in the bus on my toes?
Will it come like a change in the weather?
Will its greeting be courteous or rough?
Will it alter my life altogether?
(...)"

Explicações.

Nunca tive explicações de nada.
Hoje, dá-las?

Esclareço: onde a explicação não está, não a inventarei.

Ah, e explicações são dadas mas não escritas. Se escritas chamar-se-iam cartas, sebenta, Memorial do Convento ou Os Lusíadas...

sexta-feira, outubro 29, 2010

Acreditar ou não, onde a solução...

Antes de JMM "destruir" a sua Obra, este Poema serviu-me de leme para alguns raciocínios, quer arteriais quer venosos.
Agora, não sei...




"Se os teus dedos cruzam os meus dedos
esses ângulos são infinitos, nem são ângulos,
contêm estilhaços em fogo, a respiração das seivas.
O teu corpo não tem parcelas.
O prumo atravessa-te da cabeça aos pés,
sem largura, suspenso dos meus olhos.
Os extremos, um no ar outro na terra,
cercam os meus caminhos.
Todos os teus pontos respiram
uma água a que chamo as ruas.
A superfície mede o teu peito,
o volume as tuas mãos, o abismo
as costas curvadas no lençol.
Um dos pontos, o que me atravessa,
prolonga-se até ao meu repouso.
Aquele onde te atravesso eu
é um centro receoso, o  mundo, a infância
que ninguém soube viver."




Joaquim Manuel Magalhães, Uma Luz Com Um Toldo Vermelho, ed. Presença, 1990.
A

quarta-feira, outubro 27, 2010

17ª cefaleia.

Já o disse antes: há dias em que não durmo.
Por hábito ultimamente durmo mal. Ensinaram-me. Aprendi. Não que não viva rodeado de silêncio. Assim estou. Mas não chega. Ou se calhar há aquele dia em que o nível de silêncio torna-se excessivo. Ou que a conversa com o meu amigo "comigo-mesmo" se enreda e cria-se circular.
Nem tento deitar-me. Sei que aqui não faço como fui ensinado mas... como levo levedados estes dias, nada é como soía...
Nem tento deitar-me. Existem mundos paralelos (também acho que já disse isto) a acontecer à distância de um ou dois botões de comando. Coloco o som baixinho mas eu sei que ela ouve. Levanta-se e a passo lento decide não dormir comigo. A minha cadela segue-me para onde eu vá, ou fique, que neste caso é. E ali ficamos, "Cefaleia" e eu, à espera de mais um dia que venha confirmar as piores suspeitas que o dia anterior se encarregou de levantar.
Quando nasce o Sol, "Cefaleia", uma só vez, como que a avisar, ou a pedir, late. Para que, de mau, o dia que entra não se exceda.

terça-feira, outubro 26, 2010

Amigos.

Sim, tenho amigos. Um deles, um dos enormes, exigiu hoje tomar um café comigo. E eu fui. Pudera! Que amigo! Um abraço, Filipe.

domingo, outubro 24, 2010

Leituras.

Rentes de Carvalho e Vasco Pulido Valente no Leituras.

Georges Rouault

Sendo um movimento não francês, o expressionismo talvez tenha em Rouault, parisiense descendente dos fauves, a sua maior expressão. Este quadro chama-se "Notre Jeanne d'Arc" e não necessita de explicação.

Amadeu de Souza Cardoso.

Com este quadro saudei a entrada das pessoas na minha casa durante dois, três anos. E elas iam entrando... Depois a casa deixou de ser minha, e a reprodução também. Acontece. Claro que a piada-para-hall-de-gente-informada hoje é um lugar quase comum. O quadro não deixa de ser dos mais brilhantes de toda a história da pintura portuguesa, c.1917.

Georges Braque

O cubista nº dois, citado logo a seguir a Picasso, e com ele tão em mistura que quadros da mesma época de um e de outro são quase impossíveis de diferenciar, começou como fauvista e depois do cubismo seguiu uma linha tão pessoal quanto subvalorizada. Também é francês francês...
Este quadro chama-se "Le Portugais", e na net também é conhecido como "L'Émigrant". Encontrei textos na net que discutem esta associação - em 1911 a emigração de portugueses para a França era residual e mais intelectual do que outra...
A beleza deste quadro não se explica.

Henri Matisse

Matisse foi a resposta francesa a todos os pintores não franceses que criaram a Escola de Paris e, by the way, a pintura moderna. Enfim, estamos a esquecermo-nos de Viena, Berlim...
Que resposta!
O quadro anexo, hoje no MOMA, é ainda do período fauvista de Matisse e eu gosto particularmente dele. Aliás, eu gosto bastante do fauvismo, do seu tratamento agressivo e libertino da cor. Por isso a minha dificuldade com algumas das obras posteriores de Matisse. A raiz está aqui...

Henri Rousseau, Le Douanier.

O 1º dos pintores naif, o que pode equivaler a ser uma espécie de Sex Pistols entre os gigantes da viragem do século, mas não... O quadro anexo, é pleno de simbolismo e savoir faire: "Foret Vierge au Soleil Couchant". Reparem na onça que se ergue e no homem-sombra, resumo de um diagnóstico.

Henri de Toulouse-Lautrec

Por vezes reduzido à anedota, Toulouse-Lautrec foi tão importante neste virar de século como outros pintores aqui já mencionados. Devo-lhe nove anos, pois morreu aos trinta e sete. Mas nunca conseguirei eu exprimir tão bem como ele, neste quadro, o espanto pelo poder de um corpo de mulher em gesto de torção e exposição, "Cha-U-Kao", clownesse du Moulin Rouge...

Vincent Van Gogh

Agora que todos deixámos de gostar de Van Gogh porque todos gostam de Van Gogh, agora que se descobriu (terá sido mesmo assim?) que vários problemas médicos explicam as cores, as formas, os movimentos novos que este introduziu na pintura - o predomínio de determinadas cores, o desarranjo da perspectiva, etc., eu digo que acho este quadro perfeito. "Les Blés Jaunes" alinha vários elementos, todos em movimento, mas a cada um o movimento aplica-se de uma forma ligeiramente diferente.

Paul Gauguin

Ta Matete, mostrada no livrinho que cito só como fragmento, é um parágrafo da obra de Gauguin enquanto interrogação sobre a mulher, seja do Taiti seja de onde for... Levo anos e anos e anos a seguir as pesquizas deste outro Paul... e seguindo a minha própria linha de investigação...

Paul Cézanne

A seguir a Klee este foi o autor que motivou maior trabalho de aquisição da minha parte. Hoje ainda lembro como um dos dias mais felizes da minha vida um banho de Cézanne no MOMA. Somos assim... Este rapaz podia ser eu, há bastantes anos. Envelheci, a ausência de rumo persiste. Como curiosidade este quadro foi roubado em 2008. Não fui eu, juro. A reprodução no livrinho-guia também não segue as mesmas cores que aqui reproduzo a 100%. Porém prefiro  a versão que aqui está, mais azul, o "azul de Cézanne"...
Já percebemos que não vai dar para ir espreitar o original a Zurique...

Edgar Degas

O menos impressionista dos impressionistas, Degas pintou muito bailarinas e cavalos. Eu gosto de bailarinas. A minha filha tem aulas de ballet.

Francisco Zurbarán

Muito mais considerado hoje que Ribera é um seu contemporâneo e compatriota, Francisco Zurbarán. O quadro de que falo, outra das obras-primas que obrigam a visitar o museu do Prado pelo menos alguma vez na vida, é a "Visão de S.Pedro Nolasco". As reproduções em livro dos quadros nem sempre são fiéis, sobretudo na cor. Acontece que eu gosto mais dos tons amarelados da reprodução do livrinho de que tenho vindo a falar do que do original, a fazermos fé no site do Prado. Até porque hoje a paixão por Zurbarán passa também pelas suas cores...
Uma vez mais fico a considerar o meu livrinho especial, ao "corrigir"  o mestre espanhol do séc. XVII...

Jose de Ribera

Pintor espanhol e napolitano do séc. XVII ( o sul de Itália pertencia então a Espanha), nasceu em Valencia mas aos 20 anos já andava por Roma para depois se fixar em Nápoles. Etiquetado como "tenebrista" e subsidiário de Caravaggio, este quadro que no meu livrinho de referência aparece com o nome de "Filósofo" e na net de "Esopo", restringe o habitual pathos de Ribera ao peito nu e de ossatura irregular, metáfora óbvia para o homem que escreve e hesita, tentando encontrar aquele fio que sempre escapa e desaparece, o nexo, o nó, o fim, o princípio de tudo.

Piero della Francesca


Piero della Francesca é o meu pintor preferido do 1º Renascimento Italiano. E a razão desta minha preferência talvez resida no pormenor do fresco da "Anunciação" que consta no livro de que falei. A anunciação a Maria é dos temas mais pintados da história da pintura ocidental. Porém nunca talvez o peso da tarefa entregue ao ventre de uma mulher foi melhor retratado do que aqui, 2ª metade do séc. XV. Invento e quase juro que assim terá sido que, durante anos, terei acreditado que as fissuras da parede sobre a qual o fresco foi pintado eram para mim parte integrante da obra, parte maior do seu drama, linha de sofrimento que Maria sabia ser o seu futuro designado.

Cimabue

"O Crucifixo". O livro de que falei começa com Giovanni Cimabue. O último ou o primeiro? O último dos antigos? O primeiro dos pintores modernos?
Só sei que gosto muito desta pintura, executada há mais de setecentos anos, as linhas do Cristo não podendo ser mais actuais.

À Redacção da Editorial Verbo - os meus agradecimentos.

Aprendi a gostar de pintura ao longo de muitos e bons anos, e efectivamente de uma aprendizagem posso falar, pois o gosto não nasce, cultiva-se.
Mas tudo começou bem começado com o bendito 2º volume dos Livros RTP da Editorial Verbo: "Cem Obras-Primas da Pintura Europeia". Livro sem autor definido, daí a razão do título deste post, vou tentar a partir daqui mostrar, assim a net me ajude, alguns quadros de alguns autores que logo de início marcaram a minha cabecita ainda sem dez anos mas já a percorrer estranhos caminhos, livro este que folheei e folheei e folheei.
Lembro bem que uma pintura houve que sempre me escapou, porque estranha a todas as clássicas referências, e quie me parecia feia, incapaz de encaixar em qualquer cânone de beleza adquirido ou por adquirir. Chamava-se "No Nilo" e era de Paul Klee. Talvez todo o esforço que desenvolvi durante anos e anos para perceber esta pintura, este pintor, tenha levado a que hoje Klee seja o meu pintor preferido do século XX, ou qualquer século, já agora. Mas "No Nilo" ainda não é para mim das suas obras de que eu mais goste...

PS.: não consegui uma reprodução de "No Nilo" na net. Isto começa bem...

16ª Cefaleia.

A minha cadela está doente. Levei-a a um veterinário.
O veterinário observou-a com atenção e logo disse: "A sua cadela está triste!". A acrescentou: "Também pode ser o baço...". Receitou umas vitaminas e recomendou passeios, saídas, arejo. Nada de grandes esforços! "Volte dentro de um mês para ver como estão as coisas!"

Não é a minha cadela que está triste. E eu sei porque está ela triste.
O baço é a central de defesa do organismo das cadelas. Nos homens também. A minha cadela nunca precisou de defender-se de nada. Defendi-a eu sempre de tudo. A semana passada passeávamos e ela pisou um vidro e sangrou um pouco da pata esquerda. Olhou-me a gemer, acusadora. Como pedir-lhe desculpa? Em que ia eu a pensar naquele momento em que não reparei nos restos de garrafa que por ali jaziam, mortíferos?

O nome da minha cadela, "Cefaleia", explica-se num instante: tenho eu com frequência estas dores de cabeça que me assaltam e paralizam durante uma, duas, três horas, até que um grama de qualquer coisa faça efeito. Eu chamo a minha cadela e, enquanto a coisa não passa, ele resolve ter a dor de cabeça comigo.

Um elogio and a very private joke...

Venho por este meio elogiar o paracetamol de Alfena. Muito eficaz. A farmácia onde o comprei fica pouco antes de uma famosa barbearia...

sexta-feira, outubro 22, 2010

O descarril.

Nunca houve um rei de Portugal que merecesse o cognome de "O descarrilado". Descarrilar é uma catástrofe. Assim sempre se viu. O comboio é o mais bendito dos transportes. O menos poluente. O mais seguro. Quando acontece um desastre não atinge as dimensões épicas de um avião despenhado nem a imagem isolada de um amigo que morreu estampado contra um muro. Só há coisas boas a retirar de um comboio, é como as galinhas, as cabras, as ovelhas. Porque o comboio vai para onde o mandam, e só. Escravo dos carris onde circula, não imagino trajectos mais aborrecidos para o protagonista - o comboio - do que os seus, encarrilados dia após dia. Um comboio que descarrila é um comboio revoltado. E uma revolta pode matar.

Fora dos carris há todo um mundo. Chamemos-lhe o descarril. Ou chamemos-lhe apenas... mundo!

quarta-feira, outubro 20, 2010

Badu, the saviour.



No vid but... who cares?

Play it loud, ppl!

terça-feira, outubro 19, 2010

A nova escrita portuguesa.

Emigremos, sim?

segunda-feira, outubro 18, 2010

Long, long fight back and a sure win... - Janet & Q-Tip



..an old bet... luv u the right way...

O Ano da Morte de José Saramago.

Este livro de Amadeu Baptista, saído no mês passado, parece-me, em leitura oblíqua, o melhor livro de poesia até agora saído este ano no rectângulo. Isto, que podia não ser elogio, dada a escassez de qualidade recente, podemos recompô-lo e corrigi-lo: parece ser este um grande livro de poesia.

Ooops, I missed the drugs! / A minha vida não dava uma novela do Bret Easton Ellis...

Jeff veste Armani. Neste momento não o vemos mas a secretária (mulher) dele sabe onde ele se encontra. “Fuck!” Um som surdo de uma cabeça a bater na parte de baixo do tampo da secretária (mesa) diz-nos que: “Did you get hurt, baby?”. Jeff era um liberal, e alternava “the going down on you” com a secretária (mulher). No entusiasmo magoara-se um pouco. A secretária (mulher) estava genuinamente preocupada, e também com o seu emprego. Era já a terceira vez que as coisas não corriam bem. A secretária (mesa) estava preocupada pois possivelmente acabaria substituída por uma mais ampla – na subcave. Jeff veste Armani. Excepto ao fim-de-semana que veste Puglieti. Quase sempre.

Tiff veste Impressionanti. Acabou de escolher material novo para o escritório. Duas checas e uma ucraniana. A ideia é que elas também aprendam algo de informática, para além de saber consultar o site do departamento de Imigração. Tiff é um liberal. Ao fim-de-semana veste Goodfinger, umas vezes Middlefinger, só muito ocasionalmente provoca com Fuckfinger, a marca da moda.

Jim veste Pagliaci. E sente-se bem com isso. Acabou de redecorar a piscina interior da casa exterior da quinta do “upstate”. Materiais Tampere, com um toque de Turku. Ontem despediu as duas colombianas que tinham sido a sua referência recreacional durante o verão. Como se chama aquele país da América central a começar por um “N”? Telefona ao seu amigo Mingus: “two, man, I want two! With the vaccines and all, and good teeth! So that they don’t get sick at the same time, like the colombians, man! Do you understand?” Jim é um liberal. Ao fim-de-semana usa calças Trapezzisti e camisas Putana.

Blue anda triste. Isso reflecte-se nas suas escolhas de vestimenta: Calabrese. Foi enganado por um rapaz mexicano pela quinta vez consecutiva. Downtown LA tem aquele perfume a perigo que o inebria e o perde. Leva a mão ao pulso onde falta o Rolex. Levanta os olhos e pergunta ao rapaz que conduz o táxi de que país é: “Republica Dominicana, señor!” “Really? That’s not Mexico, right? Would you please stop here and wait, I have to go to this watch shop, but I’ll be right back…back to you!”. O sorriso foi mútuo. “Calabrese”, pensou Blue, “porque não vesti eu hoje Ricardo Quaresma…”.

Fight Back take two - Sylvian (& John Hassell)




...making my life possible...

Fight Back take one - Sylvian



...I have still a lot to learn...

...these fires never stop...

Sad Song 7 - Bowie



A primeira vez que eu caí com esta canção foi há uns vinte anos. Nunca voltei a levantar-me como era devido.

Sad Song 6 - Madonna



... a lonely hunter...

Sad Song 5 - Gus Gus



Is this what you want...

Sad Song 4 - D Ross

Sad Song 3 - Sakamoto




1996, Coliseu.

Sad Song 2 - D Sylvian & R Sakamoto



I thought all I needed was to believe...

Sad Song 1 - Llorca

Notícias do Bloqueio.

Como original que sou, faço-me uma cópia. Assim algumas palavras, caminhares, e este fechar de portas. Ah, e o truque das cores que ficam mais vivas, essa merda...

domingo, outubro 17, 2010

Piada do dia!

"Hospital da Cuff."

Cesarianas.

"O número de cesarianas realizadas por um médico num hospital público pode vir a reflectir-se na sua remuneração."

Ó meu, nós fizémos o mesmo curso? Trabalhamos na mesma casa?

A alma e o pâncreas, ou perto.

Muitas dúvidas há onde se localiza a alma. Pois eu digo que será no pâncreas. Será no pâncreas e eu explico: é o pâncreas aquele órgão que por mensagem proteica controla, faz e desfaz o nível de doçura que percorre e inunda o nosso corpo, ora digam se a alma não deve estar por ali. Ora sucede que eu também, na sequência, tenho uma especial simpatia pelos diabéticos tipo dois e explico: os diabéticos tipo dois, primeiro, chegaram depois que os tipo um, pois a carga genética é bem mais lenta, etc. e tal, de se fazer sentir, de alguma forma são gente que a serem "dois" é como se perdessem em toda a linha com os outros mas lentamente e com panache, eles e eu, já aqui acrescento, mas a ironia aqui não cede e logo continua. Esta raça de diabéticos não tem falta de pâncreas, pelo contrário, têm mais pâncreas do que os restantes mortais, o pâncreas, na minha teoria portanto a deles alma, é maior e produz mais proteína emissária do que nas demais pessoas. São porém gente onde a premência pelo doce, pelo alegre complemento, pelo amaciar perene da amargura da vida que o açúcar permite acaba por os levar a ser diabéticos. Eles querem muitíssimo, pedem o máximo, o pobre pâncreas hipertrofiado tenta mas não consegue desalfandegar adequadamente tanta quantidade e daí o desequilíbrio, o desmando, o despautério na doçura. Há um querer de uma alma imensa e multiplicadamente doce, e em doçura se afogam estes homens, estas mulheres, coisa que eu compreendo e aceito, no geral os diabéticos tipo dois são gente bem disposta, alegre até, mesmo amputados, cegos, enfartados, a fazer diálise.

Outra coisa um cancro do pâncreas. Este é a negação da alma de que falei. Por isso, talvez, ao atacar o centro regulador da doçura que nos faz atravessar o mais escuro dos dias, talvez mesmo por isso seja o mais doloroso dos tumores.

*

Ela tinha morrido de um cancro no pâncreas, no hospital respectivo. Na manhã seguinte comunicaram-no ao marido, também idoso, debilitado, choroso há semanas, uma vida de união, conforme relatado. De manhã ele nada disse de especial, aliás discorreu algumas considerações sobre o enterro, as últimas vontades. Pela tarde queixou-se de algum cansaço. Ao fim da mesma ficou confuso e paralisado do lado esquerdo. Pode-se sempre considerar que este lado é o lado do coração e portanto foi compreensível isto ter acontecido. Mas a ciência ensina-nos que paralisa o lado oposto ao hemisfério cerebral que é afectado, pois era uma trombose. O hemisfério cerebral direito, mais nos é ensinado, pode ser considerado o "não dominante", pois, por exemplo, a sua lesão não compreende a fala e o entender, dúbia vitória, o senhor de que falamos portanto desconhecia e acintosamente ignorava que o dele lado esquerdo se tinha perdido algures na viagem até ao hospital. Mas talvez tal falta de noção não tenha sido definitiva, talvez os familiares, a filha, a neta, ambas de luto recente pela mulher de que falámos antes, sua esposa, lhe tenham conseguido explicar que algo não estava bem à esquerda, que o seu corpo tinha perdido completa e definitivamente o equilíbrio e a simetria e bem podia ele chamar pelo lado esquerdo que ele não voltaria a comparecer. O que realmente aconteceu é que no dia a seguir o homem ficou pior, pois assim o terá decidido - é esta a minha opinião - com todas as suas forças, das mesmas o resto. A subtil lesão do hemisfério que era não dominante sangrou, explodiu em sangue,  e passou a dominar poderosamente o quadro médico e a vida deste homem, que em horas faleceu.
Continuando nas localizações digestivas para a alma, este homem não teve "estômago" para continuar a viver e, na minha opinião, fez o que tinha a fazer.

Continuo na minha, a alma das gentes, se existe, localiza-se por ali algures entre o pâncreas e o estômago.

Zé Manel - Granitos.

Ora este sábado à tarde, esticava eu as pernas enquanto na rádio o Sporting valentemente virava o resultado contra o Estoril-Praia, ouvi eu falar de um jogador do Estoril - nem todos serão profissionais... - o Zé Manel, que para além de jogar futebol terá uma pequena empresa de granitos, e pensei que afinal em Portugal nem tudo está perdido, há gente que se esforça e batalha e corre porque a vida o pede e não porque o centro comercial o exige, para além de que o golo do Hélder Postiga até foi bem giro...

sexta-feira, outubro 15, 2010

Ramón Gómez de la Serna

"A palmeira ancora o céu à terra.

*

As lágrimas são tão efémeras que nenhuma chegou a ser diamante.

*

Os guarda-chuvas são viúvos que andam de luto pelas sombrinhas perdidas.

*

Aquele a quem se fez uma radiografia é como se tivesse sido penetrado por um olhar do Juízo Final.

*

Quando fechamos uma porta com violência, esmagamos os dedos ao silêncio."







in "Greguerías - uma selecção", trad. Jorge Silva Melo, ed. Ass&Alvim

A minha vida nem dava um filme do Wim Wenders (1ª fase)

Merkel olha para Alphalfa. Esta é uma nave espacial que caiu no meio de Berlim, abrindo uma brecha no Muro. Ninguém aproveita para passar de um lado para o outro, e há silêncio.
(...)
Silêncio.
Dentro de Alphalfa vários extraterrestres com um toque vagamente eslavo violam muito lentamente duas morenas.
Doze dias depois está tudo acabado. A estação espacial é atacada à pedrada por dois turcos, é o caos, é o caos.
(...)
No sábado a seguir Merkel passeia com Angela. E falam. "Willst du mit mir schlafen?" "Nein, willsts du mit mir schafkopfen?" "Nein, nein, willst du mit mir schnitzen?"
Angela reflecte. Merkel acena que sim, e pensa um pouco mais. Há um rio. A água que se perde e vai, para nunca mais. Predominam os verdes, os castanhos.
(...)
Angst.
(...)
Alphalfa arde. Klaus diz: "Eu não te disse?" Gerhard chora: "Não, não disseste; e não cago há uma semana." Klaus enfia as mãos nos bolsos, e começa a caminhar em direcção ao rio.  "Então não disse. É isso." Soa um tiro. Gerhard cai ou não, se atendermos ao princípio da incerteza de Heisenberg.
(..)
Merkel aparece. Começa a correr, tropeça, cai. Angela aproxima-se, dá-lhe um beijo e um estalo, e vai-se embora. Merkel sangra do couro ( cada vez menos) cabeludo.
(...)
"Lactufô... loda-se!"

Em quatro.

Cortas em quatro
a couve coração e
está o problema do
cozer resolvido.

A necessidade de
alinhavo destes dias
podia propiciar
semelhante arrumo.

Porque grande, usemos
a faca do pão
e zás! em quatro
o coração!

Tom Petty and The Heartbreakers



Into The Great Wide Open...

Primal Scream 1997 Burning Wheel (live) - tb Vanishing Point




How I miss this stuff and times!

quarta-feira, outubro 13, 2010

Primal Scream 1997 (LP Vanishing Point)

A minha vida não é uma série americana...

Buff acorda ao lado de Sue. Esta não acorda. O som do afinal cadáver a cair no soalho faz tilintar os copos da mesa ao lado. Buff não se lembra de nada. O pescoço de Sue não está bem tratado. Snuff? Podia telefonar ao seu amigo Snuff, pois várias situações parecidas a esta começaram com uma cerveja na cozinha do apartamento do seu amigo Snuff. Mas Buff nem disso se lembra. Há um cadáver. E batem à porta. Cynthia não aparecia há dez anos, logo hoje. Traz notícias, tem uma filha e é de Buff. O facto de ser morena e Buff albino não atrapalha, só acrescenta à intriga. A filha de Cynthia e Buff é vista só em fotografias pois foi raptada por colombianos que exigem um resgate. Ou equatorianos? Ou missionários comboianos? De uma vez por todas Sue não acorda. "Foste tu que fizeste aquilo?" Que recordações terá Cynthia de Buff? Enrolam uns charros e deitam contas a vida. Calha de existir por ali uma arca frigorífica. Sue não tem mais de um metro e sessenta, o que combina. A relação sexual que acontece a seguir e sobre a arca frigorífica tem a particularidade de provocar um pequeno traumatismo crâneo-encefálico em Cynthia, que fica a dormir, morta não, esclareça-se, no mesmo lado da cama onde Sue estava. O telefone toca. É Smiff. "Tens o dinheiro?" "Meu, claro que tenho o dinheiro!" Claro que não há dinheiro nenhum a não ser nas coisas de Cynthia que são cuidadosamente revistadas. Buff sai. Do armário sai Clarence, que tem umas luvas calçadas. Olha para Cynthia no lugar de Sue e tem uma indiscutível sensação de deja vu...

terça-feira, outubro 12, 2010

Abaixo a reacção.

Acção e reacção. Onde o sujeito onde eu, e eis o balanço dos dias. É sempre a saída simples para a qual somos treinados, anos sobre anos, reagir. Alguém faz e eu reajo. Com isto chega-se aquele ponto em que podemos dizer: “eu reajo muito bem”. Ou em alternativa receber aquele rasgado elogio: “ele tem óptimas reacções!”, primo-irmão do “ele sabe sempre o que dizer!”
Acorda, irmão, pois serás julgado pelas tuas acções, não pelas tuas reacções!

Flutuo?

Desde quando?

O meu dia vai chegar... (este já foi!)

Notícias do bloqueio.

A Vodafone mandou-me uma merda dum sms sobre o clube viva.
Logo agora? Neste preciso minuto?

domingo, outubro 10, 2010

Define-te, meu!

É fácil: sou galaico-transmontano, nascido em Ovar. Tenho uma aficción muito especial pela cidade do Porto!
Que tal?

Não, a minha vida não se compara a uma telenovela!

Paulo Bento é o novo treinador da selecção e ganha à Dinamarca. Vanessa, entusiasmada, beija Mário Jorge, seu primo. Este telefona a Roberto e pede desculpa. Vanessa não gosta de Roberto mas também não gosta de ninguém; a cause des mouches não o larga. Nos intervalos discute futebol e roupa interior com Mário Jorge. Roberto aquiesce – quel mot! – porque está apaixonadíssimo por Vanessa, acha, embora tenha encontros secretos carnais com a sua antiga namorada Mitilene. Esta vai assim sossegando a ausência de Roberto, afinal intermitente, e resiste às investidas de Ricardo, bom partido e que sabe um segredo no passado de Vanessa que só revelará em último caso, episódio cinquenta. Enquanto isto, Gonçalo, amigo de todos e homossexual em segredo, casa com Cristina Bearn dos Bearn de Tinhosela, obesa e adicta ao álcool mas melómana e putativamente - quel mot! - uma grande escritora. Só Gonçalo sabe que Vanessa sabe amar, aliás tem uns vídeos que comprovam, mas sob ameaça de defenestração estes vídeos vão aparecer no YouTube, episódio quarenta e três, o que vai motivar a venda do monte em Alcarrapata – Cuba (Alentejo), pois Jaime Com-Tudo, conde da Visgarolha, quer impedir que Vanessa “passe um mau bocado” e revele onde vai ele buscar o produto. Mitilene trabalha por turnos, três manhãs e quatro tardes, tudo ao mesmo tempo, pois tem três filhos e dois animais domésticos, todos de pais diferentes. Mitilene não tem idade, porque é uma senhora. Todas as outras vão referindo que “ao menos tenho menos idade do que aquela cabra” por deferência a Mitilene. Ricardo ama-a profundamente, mas roda o secretariado cada seis meses. Jaime Com-Tudo, no meio do monte, tem um enfarte. Sorte que o helicóptero do INEM ia a passar! Roberto decide ter dois enfartes para provar o seu amor por Vanessa. Ao chegar ao Hospital exige ir para Cuidados Intensivos mas por engano vai para Otorrino onde é traqueostomizado, pelo que não pode falar. Jaime não pode fazer sexo nos próximos três meses. Roberto nem falar sobre isso pode. Vanessa exulta, embora não saiba porquê. Mário Jorge desaparece… e Paulo Bento parte para a Islândia com a equipa nacional.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Notícias do Bloqueio

Ah, pois, um terraço para que serve no Inverno? Fácil, aquela chuva que ali cai é toda só para ti...

Seis números e duas estrelas.

As vezes que falhei a
dividir pelas vezes que
estive e fiz, mais as
vezes que subi tão alto e
as que desci imparável,
vezes as vezes que real
mente vi o caminho e
era claro e quente e ao
fundo havia gente, menos
as vezes que a porta es
tava fechada, de quem a
mão que bateu indife
rente, uma certeza há, e é
regra, de que neste jogo
é preciso duas estrelas,
por improvável que seja
em jogo o brilharem, em
bora o arder seja obrigado
porque estrelas são.

Isto tudo, o das estrelas,
e as duas tempestades que
ora cursam, a externa e a
de sempre, encomenda-me
ao euromilhões, pois

"seja
o que deus quiser"!

Notícias do Bloqueio - sexta-feira.

"Não usar em caso de incêndio."

quinta-feira, outubro 07, 2010

Madonna - Gone (live 2001)



Não, esta canção não é minha, e tem dono/a. Mas...

P.S.: prefiro a versão de "Music".

Fazer uma chamada.

Na Praça da República, e disto falo porque estamos em veia comemorativa, há um supermercado chinês de seu nome "Chen", como o circo, e com variadíssimas coisas muito em conta, dentro da área, claro, e não só. Sais e olhas à direita e um enorme placard que está sobre as casas que acabam de sair da Mártires da Liberdade à esquerda diz: "Anuncie Aqui!" e tem um contacto: "217600639".
Vou telefonar.

Notícias do bloqueio - "Fabulous!"

Aproveito para lembrar que a minha antiga interna geral, em eras que já lá vão ofereceu-me um porta-chaves onde consta o qualificativo acima referido ao portador do mesmo.
Bom, eu cá continuo, não sou eu quem está a migrar para uma casa nova na doca de Pedrouços - Lisboa. Boa sorte para os dois, ambos vamos precisar.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Notícias do Bloqueio

A Wook enganou-se na encomenda de um livro. Finalmente vejo bem os quatro canais de televisão de sinal aberto q'á! É, a vida é feita de equilíbrios...

segunda-feira, outubro 04, 2010

Parabéns!

Esta rapariga foi minha interna geral!

sábado, outubro 02, 2010

Começo de Outubro.

O meu silêncio estarrece
os pássaros. Eles fogem.
E deve inquietá-los.
Também a bola de
futebol, poderosa
arma contra tudo o que
voa. São as
casas feitas para
ser pombais, eu acho.
A vida humana nelas é
um prefácio.
Onde vivo há já
um pequeno pombal.

Tão meu, chegar
(quase) no fim
da festa.