terça-feira, abril 29, 2008

"Aqui estamos"

"Aqui estamos: brutos como as avalanches, ingénuos como os funis.
Duramos oitenta, noventa, cem anos e morremos estúpidos como as couves, acreditando sempre, que somos as coisas mais importantes e mais necessárias da criação autêntica.
Estamos redondamente enganados.
Por mais brilho que possamos emprestar à nossa existência, esquecemos, sempre, que não vai chegar, nunca, uma só vida, para compreendermos o beijo de um olhar, a carícia de uma mãe ou a morte de uma folha.
O deus que nós criámos, continua a não servir para nada. Serve-se de nós, apenas, para se distrair.
Qualquer oração, qualquer sacrifício, esbarra no silêncio dos bonecos e dos mistérios.
A nossa imagem serviu para inventar o sagrado que, inventado, nos renega e nos ignora, enquanto uma chuva de feridas, de porquês e de medos, nos conduz, instante após instante, à mais terrível das verdades: a solidão sem limites."

de Nelson Ferraz, in "O Coleccionador de Bugigangas"

Etiquetas:

domingo, abril 27, 2008

Inside Publicity at School

O Leite Mimosa, repito, o Leite Mimosa, vou dizer só mais uma vez - o Leite Mimosa patrocina na escola da minha filha um concurso fotográfico sobre o... leite. Os quatro temas, ou leit-motifs são o "sabor", a "energia", a "descoberta" e a "amizade", tudo isto com leite claro. A ideia é que a Lactogal, repito, a Lactogal, uma vez mais e em maiúsculas, a LACTOGAL depois vai dar coisas à escola, o ano passado deu um frigorífico, como se sabe um electrodoméstico muito dispendioso. Para não quebrar o suspense e tendo em atenção que a minha filha vai obviamente ganhar este concurso que desinteressadamente os leites... TAL patrocinam, aqui vão dois takes reprovados nossos. Se estes foram reprovados, e que bons que eram, imaginem como são as fotos que seguiram para o concurso!
p.s.: o tetrabrik de leite usado na sessão de fotos é de "marca branca", eh, eh, eh...

Etiquetas: , ,

quarta-feira, abril 23, 2008

Brasil brasileiro


E afinal para que queremos um acordo ortográfico com estes gajos?

Etiquetas: ,

Claremont56 2007


Na sequência dos títulos de CD's com números, este de Mudd, aka Paul Murphy, ex-Akwaaba (anos 90) e não o PaulMurphy já citado neste blog pelo The Trip. Diziam que a IDM estava morta? Não. Disco implacável, na qualidade, nas opções sonoras, nas áreas escolhidas. Dizer nu disco é verdadeiramente muito pouco.

Etiquetas:

Fabric36 2007



Pelo DJ germano/chileno Ricardo Villalobos, é microhouse with a bit of african funk, ou Herbert with less pop e sem cronómetro. Há que dar-lhe tempo e ouvir com atenção, e não esperar muita dança: chill! Ketamine house? É pá, não sabem o que mais tomar, a ketamina dá-se aos porcos na cirurgia experimental, sabiam? Grande disco.

Etiquetas:

A verdade das coisas

"No se lo cuentes a nadie!" Como uma criança, criança contra criança e uma 3ª criança... que confusão!

Etiquetas:

Fotogenia


Vai ser a nova figura de proa do PSD, finalmente um partido sério e etc. Estão a vê-la num cartaz na Rotunda? Eu estou e o que vejo não me agrada... Get real, people! E a sua prestação como Ministra das Finanças não foi isenta de críticas...
Eleições fixes era a Manuela Ferreira Leite vs a Maria de Lurdes Rodrigues! Isso sim...

Etiquetas: ,

segunda-feira, abril 21, 2008

Stitch


"Lilo and Stitch: Stitch has Lilo read "The Ugly Duckling" to him because he sees a little duck all alone in the picture and he relates to him and wants to know what that story is. The page that Stitch is pointing to for Lilo to read is the ugly duckling standing all alone in the woods saying "I'm lost". Later in the story the swan family finds the ugly duckling and they are all one big happy family.Later that night after the story reading, Stitch takes the book and goes out into the woods with it by himself. He stands alone in the woods and he says, "I'm lost" and then he waits...waits for his family to come and find him."

In real life they never come.

Etiquetas: , ,

António Dacosta


(Nem sim nem não - o eremita, 1985)

Etiquetas:

sábado, abril 19, 2008

2007 New Amerykah Part One (4th World War)


Não sei se é bom, não sei se é mau. Não sei. Ninguém terá dito a Erykah Badu que ela tem a melhor voz negra (portanto a melhor voz) dos últimos vinte anos.
Talvez por isso, em cada disco - e até agora só foram quatro - ela muda um pouco o som, a música, a companhia, à busca de um maior refinar do som. Soul, funk, dub, e neste disco bastante mais hip-hop do que antes, mas uma extrema qualidade de partitura. É portanto um disco contendo da melhor música negra dos últimos anos, com Madlib por ex., e confesso, ouve-se no geral muito bem. Tem também muita militância, dispensável ou nem por isso.
Mas, mas, mas, talvez por timidez, talvez por preguiça, talvez por militância e "comunismo" na atitude, este disco tem voz de Erykah Badu a menos. E, para mim, este é um "defeito" nada negligenciável. Compreendes o que eu quero dizer, não compreendes?
É que "Next Lifetime" é apenas uma das canções da minha vida.

Etiquetas:

Maré 2008


A música brasileira tem um problema major a saber: um grande mercado de comprantes, os brasileiros, mais de centena e meia de milhão, e que facilitam o êxito ad eternum de qualquer músico minimamemte capaz e habilitado, de voz, de composição, de violão debaixo do braço.
Adriana Calcanhotto ganhou asas no excelente “A Fábrica do Poema”, e prometeu extilhaçar fronteiras em “Maritmo”. Não era porém uma novata, ao possuir dois discos prévios, de qualidade crescente. Tudo isto no século que passou. No séc. XXI, tivemos “Cantada” e o interlúdio como Adriana Parti-Pim, bem como diversas digressões apoteóticas, com Portugal incluído. O perigo estava à vista.
Adriana é uma boa intérprete, com uma voz limitada mas da qual sabe retirar inflexões inquietantes. Porém, ao não ter cuidado podem as suas tonalidades vocais roçar a monotonia, se não houver explosão na canção, se não houver diferença no arranjo. E assim as qualidades que sobravam em “Maritmo”, a diferença, o arrojo, a busca de um brasileirismo diferente do velho violão não estão em “Maré”. Da diferença ao bocejo a distância pode ser apenas um golpe de asa ou a sua ausência. Assim como Marisa Monte é solar Adriana é a mais lunar das vozes, o que tem obrigações contratuais específicas, que aqui não se cumprem.
Não é que seja um mau disco. Não há é aqui um projecto um caminho, um desafio, a busca de uma solução. Quase mais do mesmo, portanto, o que não é mau de todo, pois assim vamos ter mais tournées, mais sucesso.
Há muito tempo Adriana parou de “comer Caetano”, por isso assassina a canção “Onde Andarás”, não enche “Mulher Sem Razão” de Cazuza. A colaboração dos “meninos” Moreno+Kassim+etc não chega, a produção do omnipresente Arto Lindsay também não voa alto. Salva-se e muito o poema “Para Lá” de Arnaldo Antunes… música Adriana – ainda haverá esperança?

Etiquetas:

sexta-feira, abril 18, 2008

Anuscópio


Isto é um anuscópio. Um anuscópio. É o que isto é: um anuscópio. Nem mais nem menos: um mero e simples ANUSCÓPIO.

Etiquetas:

quarta-feira, abril 16, 2008

Target


Jasper Johns knows what's most important in life.




(Target, 1960, MoMA)

Etiquetas:

Azul, azul


Voltando a Cézanne, aqui vai mais azul!



(Turning Road at Montgeroult. 1898, MoMA)

Etiquetas:

Condomínio Efanor


A imagem que anexo serve para descansar os circulantes sobre o facto de as imagens do Condomínio Fechado Efanor da Sonae que aprecem no site abrangerem abusivamente as Sete Bicas, o novo polo de Serralves e sua envolvente, enfim...
Com se pode adivinhar na planta exibida pelo industrioso Eng. Belmiro de Azevedo, a faixa de exclusão que aparece a sul do empreendimento é o parque das Sete Bicas e o polo de Serralves e sua envolvente ajardinada, que avança até à Avenida Fabril do Norte. Esperemos que a cereja do bolo seja o arranjo que a Câmara de Matosinhos a médio prazo consiga dar ao terreno que fica entre a matriz da Senhora da Hora (lindíssima igreja) e a mesma avenida, até agora espaço para circos, estacionamento e barracas de feira/festa, quando acontece a mesma, por ex. nestes dias, de forma a se obter uma continuidade com o parque do Carriçal e a piscina municipal...

Etiquetas: , ,

A doença é minha!

"Existe um colonialismo das doenças", refere um amigo meu, que é médico. "És um tipo qualquer, médico, físico, biólogo, uma destas coisas, descobres uma constelação de diferenças, de erros, de alterações do normal e acabas por lhe dar um nome, o teu nome, como se isto fosse a Polinésia e tu o Capitão Cook." Falamos de achados, diferenças, limitações e achaques que o são para quem deles padece, todos os dias, realmente ou através daquela ameaça terrível que é a das situações latentes, vulgo Espada de Dâmocles, etc e tal.
"Porque não atribuir o nome de uma destas terríveis doenças não ao "inventor" da coisa, que se safou saudável da silva e resolveu morrer de uma outra qualquer indisposição mas sim a alguém conhecido que realmente tenha apanhado com a maleita e, de preferência, tenha convivido bem com a mesma? Porque não desaparecer a Doença de Parkinson e aparecer a Doença de Muhammad Ali, ou do Johnny Cash?" O meu amigo é um incréu, por isso omitiu de propósito o pretérito Papa. Mais disse ele - que estas doenças são de um peso enormíssimo nos ombros de quem as tem, de quem as acompanha. Sofrem ao mesmo tempo de uma longa cortina de invisibilidade para a larga maioria que delas não sofre, e portanto as desconhece ou apenas reconhece um rabisco grosseiro de, um esboço errado, uma sombra. "Porque não renomear a doença conforme os bons exemplos de convivência com a mesma, "de bairro para bairro", aqui a Doença da Rita, ali a Doença da... Sandra, por ex.?"
O Dr. James Parkinson descreveu a "sua" doença como "a involuntary tremulous motion, with lessened muscular power, in parts not in action and even when supported; with a propensity to bend the trunk forwards, and to pass from a walking to a running pace: the senses and intellect being uninjured". Os doentes com Parkinson, perdão, com a doença deles teriam tão mais coisas para contar!

Etiquetas: ,

Berlusconi III


Verjam o que aparece no Guardian sobre este homem, uma espécie de Alberto João Jardim mas com outra... dimensão!

Etiquetas: ,

segunda-feira, abril 14, 2008

Provedor do Trabalhador Temporário


Estava eu todo contente ao descobrir que o trabalhador temporário tinha agora alguém que os defendesse quando descobri que essa figura era... Vitalino Canas! Basta mandar-lhe um email! Como sabemos, a maior parte dos trabalhadores temporários, conhecidos pelo seu background cultural e dedicação às novas tecnologias, domina a internet na boa...

Etiquetas: ,

sexta-feira, abril 11, 2008

Sporting 0 - Glasgow Rangers 2

Estava eu ontem muito descansado a ver a (aliás merecida) eliminação do Sporting pelo Rangers quando de repente - puta que pariu! (1) - e logo a seguir - caralhos me fodam! (2). Foi assim uma coisa rápida, mas passou logo!

Etiquetas:

quinta-feira, abril 10, 2008

Kaagaz Ke Phool


Ou o filme em VHS sem imagem ilustrativa no post "6 VHS 6" (Flores de Papel por Guru Dutt, 1959). Eis!

Etiquetas:

Demain






(Claude Monet, Nymphéas Bleus, 1916-9)

Etiquetas: ,

Aujourd'hui





H. Toulouse-Lautrec, Rousse (toilette), 1896)

Etiquetas: ,

quarta-feira, abril 09, 2008

Hier




(Manet, Le dejeuner sur l'herbe, 1863)

Etiquetas: ,

segunda-feira, abril 07, 2008

Yesterday, today and tomorrow


How could I know what tomorrow would bring?




(Cézanne. Le baigneur. 1885)

Etiquetas: ,

6 VHS 6


Eis que falo de seis filmes seis que eu decidi escolher de entre o muito VHS gravado que tenho – arruinado e ilegível – para adquirir em DVD. Já mal me lembro deles. Tenho imensas saudades deles.

1. E do primeiro falo citando – White Dog de Samuel Fuller (1982): “The film is based on a true story. While she was living in Hollywood with her husband, writer Romain Gary, actress Jean Seberg brought home a large white dog she had found on the street that seemed friendly and playful. However, when the animal saw her black gardener it attacked him viciously, injuring him. Afterwards they kept it in the back yard, but one day it got out and attacked another black man on the street but no one else. After this happened a third time they realized that someone had trained the dog to attack and injure only black people. Gary wrote a story about it, and eventually Samuel Fuller read it and made it into this movie.” Lembro-me do cão e lembro-me de ser um filme muito desagradável - como o cão.

2. Kes de Ken Loach é a história de um rapazinho num subúrbio londrino que se torna no mais improvável dos falcoeiros. E um filme de 1969, tempos onde todas as denúncias ainda tinham sentido, e o realismo de Ken Loach ganha aqui contornos de fábula. “Ranked seventh in the BFI 100's recent selection of the favourite British films of the 20th century, Kes remains Ken Loach's masterpiece.
While the director has reached similar aesthetic heights in subsequent years, the film remains a template for Loach's abiding concerns: the struggle of the British working class to achieve life's basic needs, dramatised through the plight of an individual character; the significant impact of public institutions upon personal lives; sensitive performances with an ear for regional dialects; and an unobtrusive yet evocative visual style that illuminates character and place in a naturalistic fashion” Lembro-me do rapaz, e dos verdes baldios inóspitos onde rapaz e pássaro tentavam sobreviver, um com o outro. E lembro-me da sua voz nervosa a chamar o bicho: “Kes!”

3. Flores de Papel (Kaagaz Ke Phool) é um filme de um realizador indiano hoje mítico, Guru Dutt. “His death was an irreplaceable loss to Indian cinema. And it was a tragic twist of fate that his films, most of which were discounted in his lifetime, would be regarded as cult classics after his death. Guru Dutt would always be known, even if posthumously, as the Guru of Bollywood's Golden Age and one of the world's most important international auteurs....” É um melodrama musical de mais de duas horas de duração e dele lembro-me de algumas canções e danças e de mais alguns fotogramas, num preto-e-branco glorioso. Realizado em 1959 foi um flop comercial.

4. Outro black-and-white é o 2º de Jim Jarmusch, Down By Law. “Described by the filmmaker as a "neo-beat-noir-comedy", it features musicians John Lurie and Tom Waits and famous Italian comic actor Roberto Benigni, as three men who escape together from a Louisiana prison and get lost in the surrounding, dense swamplands”. E lembro dos três estarolas em acção, Tom Waits, Roberto Benigni e John Lurie, sendo a banda sonora deste – Lounge Lizards e muito boa. Menosprezado pela sombra que o filme de estreia deste wunderkind projectava, é sobretudo bem feito e divertidíssimo.

5. Never Cry Wolf de Carroll Ballard é uma produção Disney sobre um biólogo que é deixado no meio da tundra sózinho para estudar os lobos. É um filme Disney, talvez o melhor já feito por eles, porque subtil: os valores estão lá todos, mas desta vez muito bem embrulhados. “When one experience solitude and wilderness as Tyler does, the first thing you notice is the silence that surrounds you. The only noises that can be heard are the ones you make, and simple actions like scratching your hand, striking a match, or the rustle of your nylon parka as you simply move all become a symphony of noises you never noticed before.
The director, Carroll Ballard, takes great pains to illustrate this in the beginning of the movie( knowing all the while most viewers will miss these subtleties) as Tyler is left on the a frozen lake with all his gear strewn about. Rosie guns the engine to his plane for the third time and finally gets to takes off. The sound of that single engine plane is deafening and overpowers everything within 25 miles, but the silence Tyler is left with as the last throb of the plane's engine disappears in the distance is even more so. All of Tyler's actions at this point center around the noise they make. Notice this when you watch.” Lembro-me de algumas cenas patetas, deliciosas, do biólogo, não propriamente um perito em sobrevivência no Ártico. E lembro-me dos lobos.

6. Thérèse de Alain Cavalier (1986) foi um sucesso de estima cá e uma consagração premiada em França. Depois não se ouviu falar mais falar deste realizador, que se terá virado mais para o documentário.
A história de Sainte Thérèse de Lisieux, "criança" carmelita que morreu de tuberculose é apresentada neste filme com os sons, as cores, os enquadramentos e as (poucas) palavras perfeitas. Um filme-poema que beatifica a hemoptise. "Cavalier’s Thérèse is in many ways a typical teenager, vivacious, giggly, unaffected. Like all the Carmelites, she views her relationship with Jesus in terms of romantic love — but for her this love is as real and thrilling as human love to her secular peers. "I’m in love with Jesus — he’s courting me, what can I do?""

Citações dos sites Senses of Cinema, Decent Films, IDMB e Amazon.

Etiquetas:

domingo, abril 06, 2008

Ofir e suas torres


Há que anos não passeava pela areia de Ofir! Eis o que fiz hoje, logo após um tratamento dentário (Dra Sara Rodrigues, CV de Esposende - recomenda-se!).
E comentam que querem deitar abaixo as torres de Ofir. E, claro, com o meu dinheiro! Que não deviam ter sido construídas, ok, que ficam em cima de duna, certo. Mas também vão destruir as moradias que mais a norte estão sobre dunas, com porta directa do jardim para a praia? Ou aí se calhar o dono é gente mais influente e, afinal, é só uma moradia construida directamente na duna e com acesso a praia por portinhola especial...
Pensar, professor, pensar...
Por outro lado fiz a estrada "florestal" até a Apúlia. O pobre do pinhal de Ofir está completamente retalhado pelos privados - uma que outra vivenda é Souto Moura, não é? - ficando aqui e ali línguas de protecção desgarradas. Que pena!

Etiquetas: ,

quinta-feira, abril 03, 2008

O pioneiro da psicossomática e outras histórias

Um amigo meu foi visitar um colega de profissão, mais velho, por motivos confusamente profissionais. Foi pedido “veja lá se está tudo bem, ele é um chato, não o aguento mais...”, e assim se procedeu a um domicílio.
Encontrou o senhor em questão sózinho. Após a apresentação a conversa desviou-se rapidamente para memórias e eventos antigos. O homem mais velho estava algo lentificado, não se sabe se pela doença ou por alguma medicação. Aparentemente o homem mais velho preferia estar sózinho. Ultimamente a prática profissional cansava-o imenso. Os raciocínios elaborados pareciam adequados, a informação dada a correcta. Para além de uma longa experiência profissional, algo pioneira inclusivé em algumas áreas, o homem mais velho tinha acumulado experiência em Belas Artes até bastante tarde, incluindo docência. “Tenho este problema na coluna cervical, sabe... o ano passado ao conduzir dei por mim com o automóvel a subir um monte. Como consequência do acidente... fiquei com este trémulo na mão direita mas que eu controlo perfeitamente; eu escrevo, consigo desenhar, consigo pintar...”. Efectivamente de vez em quando olhava para a mão e ela deixava de tremer.
Escrever, desenhar, pintar.
“Sobrevivi já a dois tumores na ***, fiz várias cirurgias... agora estou bem...”.
Tumores, dois.
“Preocupo-me com a minha filha, ela não fez descontos, não vai ter uma reforma como eu, agora é demasiado tarde, penso nisso todas as noites... que idade tem? 42 anos...”. “Ultimamente tenho caído com frequência, e aí a minha mulher pôs-me aqui. Uma equipa excepcional, não tenho nada que dizer... combinei ir embora amanhã e estou muito melhor!”
“Sabe, o meu problema é que amo desmedidamente a minha filha”.
O meu amigo comentou-me ter tido dificuldade em medir a doença de quem tinha pela frente em comparação com a sua, a presente e, sobretudo, a que há-de vir. Não elaborou demasiado nas eventuais sombras presentes, no pequeno delírio que ali estava, na possível fábula, recusou-se aliás a tal. Sentiu pesar-lhe também nos ombros tudo o que não sabe fazer - escrever, desenhar, pintar...
A distância impediu-lhe despedir-se do homem mais velho com um abraço.

Etiquetas:

Do choro

Um amigo meu não se lembra da última vez que chorou. Costuma dizer: “Antigamente, quando era criança, chorava muito! Depois secou, para nunca mais!” Sei que é assim, pois nas conversas que tenho com este meu amigo ele nunca mente, o que não é uma qualidade em si, é apenas uma constatação, uma evidência. Diz ele também que já repetidas vezes por ali andou o momento, a humidade periconjuntival, o acenar da hiperventilação, o soluço, a adução dos ombros. Só que nesses momentos, ligeiro, eficaz, o vigia encarregado de lhe secar o olhar logo avança e faz o que tem a fazer. “Fecho é muito os olhos” – diz – “e a muitas coisas!”.
Respondo-lhe que não chorar nunca - é um defeito, e dos grandes, e que fechar os olhos tem apenas duas indicações, o sono e o prazer, sendo esta última opcional pois há quem os prefira ter bem abertos quando.

Etiquetas:

terça-feira, abril 01, 2008

Finalmente

Finalmente um editorial escrito pelo José Manuel Fernandes no Público de 31/03 tem a minha total concordância.Excepto o não ser linkável...
Chama-se "Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo" e é sobre a questão António Borges vs Manuel Pinho.

Etiquetas: ,

Elite Model Brasil 2005


Guilherme Gama

Etiquetas: